O FALECIDO

e souza

Comentava com um amigo sobre cultura popular, crendices e outras coisas. Creiam entendo dessas coisas tanto quanto você. Uma conhecida que é viúva me conta “O falecido meu marido que morreu há trinta anos, era um homem bom, marido fiel, trabalhador, justo, pai severo, correto e exemplar, etc.” Sempre cita o marido como exemplo de homem dedicado. “Jamais desviou os olhos para outro rabo de saias.” Conta “também que” jamais pensou em ter outra cueca dentro da gaveta e que nunca cruzou as pernas pra outro homem, porque o finado meu marido que morreu era homem macho. “perguntei qual era seu nome e ela respondeu o dela... – O dele. Ela respondeu João. Cheguei a pensar que o nome dele fosse FINADO de tal, mas não disse nada. Fiquei curioso e pedi para ver uma foto dele, ela vasculhou algumas gavetas e tirou de uma delas um álbum” isto mesmo, o finado meu marido que morreu está neste aqui. “A foto: Uma sala pequena, com algumas pessoas, homens de terno e gravata, mulheres com vestidos longos e algumas crianças, umas quatro, vestidinhas com roupa de festa, estavam dispostas umas ao lado das outras, a foto foi clicada de cima para baixo, antes, porém o fotografo preparou muito bem seu alvo. As pessoas foram colocadas em forma de meia lua na cabeceira de um caixão, ocupado confortavelmente por seu eterno proprietário. Um homem de grandes bigodes, algum cabelo bem penteado, exibia sua derradeira pose. O féretro estava no chão, amparado por quatro tijolos e na cabeceira mais tijolos para que esta parte ficasse mais alta. Penso que tenha sido o fotógrafo que dispôs as pessoas daquela maneira como se arrumasse uma criança para a sua primeira comunhão. É um costume bastante mórbido, mas é cultura ou sei lá o quê. O negócio é eternizar os vivos, por que não os mortos? Afinal, os vivos serão um dia nossos mortos. (nossa quanta abobrinha!)

edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 19/06/2012
Reeditado em 26/07/2014
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