"O Meu Maior Presente do Mundo"

Eu já havia o visto outras vezes sob o mesmo sol que eu costumo caminhar todos os dias em Cuiabá; o calor aqui não é para qualquer um. E ler nesta quentura é o que ele fazia as 14h00min. Seu nome não me interessou, mas vê-lo lendo, sim. — Eu, simplesmente, não quero fazer uma crítica, apenas quero deixar claro o acontecido. O que eu vi com meus próprios olhos foi desnorteante. Talvez seja mais que isto, e tenha me causado algo que eu não posso por em palavras: — elas podem me trair. Para mim, o que sempre me importou, não é a cor da pele de alguém, ou, simplesmente o que ela faz, mas, visualizar aquela cena para qualquer outro pode ser indiferente, mas para mim não poderia ser igual, talvez por eu admirar tanto os livros. Quando vi aquela cena logo pensei comigo que deveria parar e conversar com ele, então fui interroga-lo sobre qual livro lia. Uma coisa que me esqueci de apontar, o rapaz é uma pessoa humilde, flanelinha, aqueles que guardam os carros enquanto seus donos saem para realizarem seus afazeres. Onde ele deve morar logo, ao lado do local onde exercia sua leitura, poderia não ser sua casa, porém, deve ter invadindo-a por falta de opção. Mas voltando ao causo. O livro que o sujeito lia chamava-se “O Maior Presente do Mundo”, talvez, em sua mente, o que se passava ao ler aquela história, seria o caso de ele não ter moradia e viver de esmolas no dia-a-dia. Milhares de pessoas vivem assim todos os dias em qualquer lugar em volta do globo terrestre, outros milhares, que podem ter tudo que desejam de seus pais, no entanto não praticam o ato que me fez ficar do jeito que estou agora. Sua atitude despertou em mim certo quê de revolta, pela ingratidão que acontece nos lares de vários países, a falta de interesse, a falta de respeito, a falta de gratidão desses seres apoderados de riquezas. Ali, naquele momento, o rapaz negro que lia sua história, com toda certeza é um ser rico. Rico em cultura, em sabedoria. Ele mesmo sendo pobre, miserável, optou simplesmente por ler, ele que poderia estar praticando furtos estava ali parado esperando a recompensa por mais uma vez guardar carros ao invés de quebrar vidros para furtar algo de dentro deles. O maior presente do mundo para ele é a capacidade de leitura que obteve. Estar sentado no seu banco e poder viajar pelo mundo sem gastar nenhum centavo de sua fortuna. Ele ainda me fez ficar ainda mais perturbado dizendo que já estava terminando sua leitura me ofereceu o livro para que eu pudesse ler também. Hoje eu ganhei o meu melhor presente do mundo e vou retribuir com o que penso ser o melhor, outro livro para que possa sempre viajar.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 19/06/2012
Reeditado em 19/06/2012
Código do texto: T3732904