A PRIMEIRA VEZ

A primeira frase é sempre a mais difícil de ser formada na elaboração de qualquer texto, torna-se quase sempre como a primeira vez em qualquer atividade humana. Enquanto o cérebro devaneia à procura do melhor ângulo literário a ser descortinado, do caminho para causar grande impacto para o bem ou para o mal, o cronista/escritor fita a tela em branco do seu computador e borbulha na confusão de seus pensamentos, sempre se perguntando: o que dizer ao leitor cujo coração desejamos atingir com a força da comunicação escrita, como chamar sua atenção para as palavras unidas na formação de algo claro e direto?

Dá-se o caso até mesmo de as palavras se embaralharem num conflito literário quase sem fim, tudo embola como fiapo rolando por força do vento, já não há como unir o conjunto arquitetado de letras, é quase impossível compreendê-las, dar-lhes sentido. Misto de desespero e ansiedade, porque pode ser até mesmo que subitamente seja elaborada a frase tão desejada, mas depois o escritor a relê, e se surpreende com a sua fragilidade, a simplicidade de seu todo, então, levado pelo anelo de melhorar, tenta de todas as formas refazê-la, reescreve-a outras tantas vezes, rabisca, risca e borra. E todas as etapas de criação recomeçam, para sua sadia loucura.

Todavia, por fim, gerando intenso alívio, a frase ideal aflora e inicia a trajetória dos sonhos e da inventividade. Ela sai à frente, guia à guisa de líder o fluir das demais frases, dos capítulos e, por fim, da obra em seu todo, na dimensão de sua magnitude. Bem se vê que a arte da escrita não é tão dócil e fácil quanto alguém poderia imaginar, porém árdua, silenciosa, suada, cansativa e prazerosa. Ao escrever, sejam os poetas, os cronistas, os escritores, os dissertadores, qualquer um que se utilize das letras, eles descobrem a si mesmos em situações de devaneios, ilusões e verdades, abrindo caminhos, veredas e estradas para consolidar a vida, o amor, a alegria, os sonhos mais impossíveis, que depois se tornam comuns e possíveis.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/06/2012
Código do texto: T3731805
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