EM TEMPOS JUNINOS – LUIZA SONHA EM CASAR
De: Ysolda Cabral
 
 
 
Luiza, um pouco maior dos 35, andava triste e sem ânimo para nada. No trabalho continuava competente e atenciosa como sempre. Contudo, nós, suas colegas, sabíamos que ela não estava nada bem.
 
A prestativa Mirian, sempre atenta a tudo e a todos, notara antes de nós a apatia de Luiza e já se empenhava, há dias, em levantar seu astral. Mas, nada tinha dado resultado... Ainda.
 
Até que, no último dia 12 de junho, Luiza ao chegar para trabalhar, foi direto pra cantina tomar um cafezinho e ali encontrou Mirian muito animada, contando pra todo mundo como o santo casamenteiro, Antonio, havia lhe ‘’dito’’, quando ela ainda era bem mocinha, o nome do rapaz com quem iria casar.
 
Mais que depressa, Luiza puxou uma cadeira, esquecendo completamente a tristeza, a apatia e se sentou -  toda ouvidos -  pedindo à Mirian que continuasse a narrativa,  sem poupar nenhum detalhe.
 
Era um dia como o de hoje - véspera de Santo Antonio – falou Mirian toda feliz da vida, pois tinha conseguido despertar o interesse de Luiza - eu estava com 17 anos e sem nenhum pretendente pra casar, resolvi perguntar à uma amiga, mais experiente, se havia um jeito do santo casamenteiro me ajudar.
 
Ela me disse para jogar uma moeda, de qualquer valor, na fogueira de Santo Antonio, tão logo fosse acesa. E, que,  no dia seguinte, bem cedinho, tirasse a moeda das cinzas e a colocasse dentro da bolsa, até  que um mendigo me pedisse uma esmola, ocasião em que, eu deveria lhe dar a respectiva moeda. Porém, antes dele ir embora, eu teria que perguntar o seu nome, e, o nome que ele falasse,  seria o nome do rapaz com quem eu iria me casar. Agora, se ele fosse embora sem me responder, eu estaria condenada a ficar solteirona para sempre.
 
O resultado foi que, antes dos 19 anos, eu estava casada, com um rapaz  que tinha o nome igual ao do penitente - o qual havia me aparecido pouco tempo depois de ter feito a simpatia - e muito feliz esperando o meu primeiro filho.
 
Luiza, para nossa surpresa, se levantou entusiasmadíssima, anunciando que iria fazer a tal simpatia, tão logo chegasse em sua casa.
 
Finalmente descobrimos o que afligia aquele coração ingênuo, bondoso e sonhador: a falta de um namorado, de um marido... (Risos)
 
Bom, no dia seguinte,  lá estávamos todas nós ansiosas a espera das novidades.
 
Surpresas, vimos Luiza chegar do mesmo jeito: apática, andando em ''câmara lenta''.
 
Dirigiu-se até onde estava a Mirian e contou que, havia feito tudo direitinho. Porém, como não tivera tempo de providenciar sua própria fogueira, tinha jogado a moeda na fogueira da vizinha. Claro que com o seu conhecimento e consentimento.  Aconteceu que, quando foi pegar a moeda , bem cedinho, não encontrou nem as cinzas. A vizinha havia varrido tudo e muito bem varridinho.

Foi um choque! Ninguém esperava um desfecho daqueles e ficou todo mundo calado sem saber que dizer e nem o que pensar.
 
Foi quando a esperta Mirian, se levantou e muito braba falou:
 
- A culpa é sua de não ter dado certo! Quem mandou contar pra vizinha?! Essas coisas a gente faz na ‘’moita’’, no sigilo absoluto! 
 
Ninguém respirava de tanta aflição e ela continuou:
 
- Se preocupe não, nem tudo está perdido. Lembre-se que São João está chegando e ele, na hierarquia celestial, tem até mais prestígio que Santo Antonio...
 
Pronto, deu-se a desgraça e o caldo vai engrossar, pensei cá comigo.
 
Não deu outra;  Luiza foi embora,  ''fumaçando'' de tanta raiva, sem lhe dá mais nenhuma atenção.
 
Quanto à Mirian? Ficou indignada, olhou pra mim e falou:

- Ela pensa que a culpa é minha, pode uma coisa dessas?

 
- Esquenta não, minha amiga! Mais que depressa a consolei e continuei... 

- Isso foi rixa dos santos juninos. Logo ela esquece a ‘’desgraça’’ e vai comemorar a sorte que tem.

Garanti com a convicção daqueles que sabem do que estão falando.  Hahahahahahahahaha...

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Fato real, apenas usei nomes fictícios. (Risos)