O FIM DO SONHO DO AUTOMÓVEL
Avenida 23 de Maio em São Paulo, capital
Avenida 23 de Maio em São Paulo, capital
“O sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo. Ele foi bom há 40 anos, quando era um em mil. Hoje, há famílias que têm oito veículos para fugir do rodízio. É o rodízio da hipocrisia: você que é pobre não vai andar, mas eu, que sou rico, pego meu outro carro”.
Este é um pequeno trecho da entrevista publicada pelo UOL, feita com Horácio Augusto Ferreira, engenheiro de tráfego, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e defensor do uso intensivo de ônibus (em corredores próprios), como parte da solução para o trânsito urbano.
Em julho de 2009 publiquei um texto chamado “Como esperar algo diferente se não mudamos?”. Lá, eu comento exatamente isso: todos reclamam do “inferno” que é o trânsito na capital paulista, mas quase ninguém muda seus hábitos. Horácio aponta a questão básica que o usuário leva em conta na hora de optar por um meio de transporte, ou seja, por que as pessoas fogem do ônibus, metrô e trens abarrotados, dando preferência ao carro? Responde ele: “Pela velocidade, pois os ônibus não conseguem rodar em horário de pico (a velocidade média estimada é de 5 km/h). Então, entre um carro que não anda e um ônibus (ou trem ou metrô) superlotado, as pessoas com renda um pouco maior optam pelo carro”. Os políticos sabem disso, mas não movem uma palha para minimizar o problema. Não há dúvida: o transporte coletivo é ruim, insuficiente, além de ser impossível o cumprimento de horários pelos coletivos devido aos congestionamentos constantes.
Para reverter essa situação, deve-se dar prioridade total aos ônibus, mas, para isso, tem-se que incomodar o usuário do carro, não tem outro jeito. É impossível conciliar privilégios ao transporte coletivo sem suprimir uma faixa dos automóveis. O problema é: qual administrador público tem coragem de falar que uma faixa de ônibus transporta dez vezes mais pessoas que a mesma faixa de automóveis, sendo imperativo adotar-se tal privilégio?
Horácio enfatiza que acabaria com os rodízios em São Paulo para a cidade sentir o que é a verdade do automóvel: “Todo mundo quer andar de carro, mas não existe espaço físico que comporte tanto carro. Você consegue colocar cem pessoas em um metro quadrado? Não consegue, e o que estão querendo fazer com o automóvel é isso. Não tem mais obra viária que vá resolver a questão da mobilidade por transporte individual. Não tem alargamento de marginal, ponte ou túnel que dê conta”.
Além disso, a política da venda de automóveis posta em prática pelo governo federal é suicida. O sujeito se endivida até não poder mais, comprando seu “sonho de consumo” em uma quantidade de prestações a perder de vista e sem se dar conta de que seu precioso bem gera despesas adicionais, como IPVA, licenciamento, manutenção, pedágios, combustível e seguro – que a maioria nem faz. Muitas vezes mal consegue bancar o que financiou. E os vendedores e financiadores (os bancos) estão pouco se lixando: não pagou, toma-se o sonho de consumo de volta e ponto final. E, se o comprador conseguiu pagar algumas parcelas, isso é dinheiro perdido.
Uma medida interessante defendida por ele é a implantação de um sistema em que os ônibus conversem com os semáforos por radiofrequência, para diminuir a duração do sinal vermelho, dando-lhes preferência. Londres implantou isso em 1977 e diminuiu 30% no tempo de percurso. Aqui no Brasil, apenas Curitiba já o implantou há três meses em todos os seus corredores. Vejo isso como um sonho distante, pois na maioria das capitais e grandes cidades, os semáforos ainda são do tempo do onça. Um bom exemplo é a cidade de Santos/SP, onde resido, que tem um trânsito caótico, ruas e avenidas saturadas e superadas, além de um sistema semafórico digno de cidades de quarto mundo, tanto em excesso de aparelhos como em tecnologia, o que trava ainda mais o trânsito. Somente a CET (órgão municipal), que o administra, não se dá conta disso. Incompetência pura.
Pensando bem, é mesmo verdade que o sonho do automóvel acabou. Antes, dirigir era um grande prazer, principalmente pelas rodovias, não tão boas como algumas de hoje, mas, pelo menos, transitáveis em termos de quantidade de veículos. Então, pergunto: que graça tem hoje sentar em frente ao volante de um automóvel para encarar congestionamentos sem fim, motoristas mal educados, motoqueiros da era medieval que chutam espelhos retrovisores, rodovias congestionadas fazendo de seu lazer de final de semana uma grande odisseia? É amável leitor, os tempos estão muito estranhos, muito estranhos.
Este é um pequeno trecho da entrevista publicada pelo UOL, feita com Horácio Augusto Ferreira, engenheiro de tráfego, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e defensor do uso intensivo de ônibus (em corredores próprios), como parte da solução para o trânsito urbano.
Em julho de 2009 publiquei um texto chamado “Como esperar algo diferente se não mudamos?”. Lá, eu comento exatamente isso: todos reclamam do “inferno” que é o trânsito na capital paulista, mas quase ninguém muda seus hábitos. Horácio aponta a questão básica que o usuário leva em conta na hora de optar por um meio de transporte, ou seja, por que as pessoas fogem do ônibus, metrô e trens abarrotados, dando preferência ao carro? Responde ele: “Pela velocidade, pois os ônibus não conseguem rodar em horário de pico (a velocidade média estimada é de 5 km/h). Então, entre um carro que não anda e um ônibus (ou trem ou metrô) superlotado, as pessoas com renda um pouco maior optam pelo carro”. Os políticos sabem disso, mas não movem uma palha para minimizar o problema. Não há dúvida: o transporte coletivo é ruim, insuficiente, além de ser impossível o cumprimento de horários pelos coletivos devido aos congestionamentos constantes.
Para reverter essa situação, deve-se dar prioridade total aos ônibus, mas, para isso, tem-se que incomodar o usuário do carro, não tem outro jeito. É impossível conciliar privilégios ao transporte coletivo sem suprimir uma faixa dos automóveis. O problema é: qual administrador público tem coragem de falar que uma faixa de ônibus transporta dez vezes mais pessoas que a mesma faixa de automóveis, sendo imperativo adotar-se tal privilégio?
Horácio enfatiza que acabaria com os rodízios em São Paulo para a cidade sentir o que é a verdade do automóvel: “Todo mundo quer andar de carro, mas não existe espaço físico que comporte tanto carro. Você consegue colocar cem pessoas em um metro quadrado? Não consegue, e o que estão querendo fazer com o automóvel é isso. Não tem mais obra viária que vá resolver a questão da mobilidade por transporte individual. Não tem alargamento de marginal, ponte ou túnel que dê conta”.
Além disso, a política da venda de automóveis posta em prática pelo governo federal é suicida. O sujeito se endivida até não poder mais, comprando seu “sonho de consumo” em uma quantidade de prestações a perder de vista e sem se dar conta de que seu precioso bem gera despesas adicionais, como IPVA, licenciamento, manutenção, pedágios, combustível e seguro – que a maioria nem faz. Muitas vezes mal consegue bancar o que financiou. E os vendedores e financiadores (os bancos) estão pouco se lixando: não pagou, toma-se o sonho de consumo de volta e ponto final. E, se o comprador conseguiu pagar algumas parcelas, isso é dinheiro perdido.
Uma medida interessante defendida por ele é a implantação de um sistema em que os ônibus conversem com os semáforos por radiofrequência, para diminuir a duração do sinal vermelho, dando-lhes preferência. Londres implantou isso em 1977 e diminuiu 30% no tempo de percurso. Aqui no Brasil, apenas Curitiba já o implantou há três meses em todos os seus corredores. Vejo isso como um sonho distante, pois na maioria das capitais e grandes cidades, os semáforos ainda são do tempo do onça. Um bom exemplo é a cidade de Santos/SP, onde resido, que tem um trânsito caótico, ruas e avenidas saturadas e superadas, além de um sistema semafórico digno de cidades de quarto mundo, tanto em excesso de aparelhos como em tecnologia, o que trava ainda mais o trânsito. Somente a CET (órgão municipal), que o administra, não se dá conta disso. Incompetência pura.
Pensando bem, é mesmo verdade que o sonho do automóvel acabou. Antes, dirigir era um grande prazer, principalmente pelas rodovias, não tão boas como algumas de hoje, mas, pelo menos, transitáveis em termos de quantidade de veículos. Então, pergunto: que graça tem hoje sentar em frente ao volante de um automóvel para encarar congestionamentos sem fim, motoristas mal educados, motoqueiros da era medieval que chutam espelhos retrovisores, rodovias congestionadas fazendo de seu lazer de final de semana uma grande odisseia? É amável leitor, os tempos estão muito estranhos, muito estranhos.
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