AMAMOS O DESEJO OU O DESEJADO?

"...Disseque suas motivações mais profundamente!Achará que jamais alguém fez algo totalmente para os outros.Todas as ações são autodirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor-própio. - As palavras de Nietzsche assomaram mais rapidamente, e ele prosseguiu célere. - Parece surpreso com este comentário? Talvez esteja pensando naqueles que ama. Cave mais profundamente e descobrirá que não ama a eles: ama isso as sensações agradáveis que tal amor produz em você! AMA O DESEJO, NÃO O DESEJADO. Assim, permita que pergunte de novo porque deseja servir-me? Novamente pergunto-lhe doutor Breuer - aqui a voz de Nietzsche se tornou severa - : quais são suas motivações?..."

Este é um trecho do romance de Irwin D. Yalom; "Quando Nietzsche chorou". Freidrich Nietzsche, filósofo alemão e Dr. Josef Breuer, um dos pais da psicanálise, discutem a possibilidade de Nietzsche, que sofre de terríveis enxaquecas e profunda crise existencial, tratar-se na clínica Lauzon em Viena. Resistente e relutante à proposta e aos argumentos de Breuer, Nieztsche se lança num complexo discurso colocando em questão as palavras persuasivas e a autoridade médica de Breuer. Tomado de um ceticismo rigoroso meio as questões das motivações humanas, o escritor julga ser usado pelo médico na finalidade de satisfazer seus próprios desejos.

Depois de ler este parágrafo passei um breve momento refletindo sobre o desejar o desejo.É verdade dizer que os desejos nascem das frustrações? Temos a chance de desejar?Vivemos insatisfeitos. Fazemos parte deste consumismo desenfreado e compulsivo que impossibilita o desejo. E o que dizer das relações? Estaria esse descontentamento atrelado às satisfações momentâneas e a dificuldade de uma geração em criar vínculos e estabelecer relações consistentes?

Escrever isso me fez lembrar de um livro que li há muito tempo; A arte de amar de Erich Fromm. Em uma de suas definições sobre o amor(ou desejo,pois se refere restritamente ao amor erótico)fala de um desejo de fusão total, de quebrar barreiras e transpor as fronteiras que separam dois estrangeiros. Uma vez a pessoa estrangeira conhecida intimamente não há mais barreiras a atravessar, não há mais nenhuma proximidade a ser realizada. Entendo isso como uma maneira de satisfazer momentaneamente um desejo, porém um desejo que se caracteriza exclusivamente pelo contato do corpo,não há interesse real pelo desejado, trata-se de uma experiência transitória, sem profundidade. O desejo sobrepõe a pessoa desejada, resta apenas partir para outro estrangeiro.

Quais seriam as verdadeiras motivações do homem? Uma necessidade satisfeita seria um motivador para o comportamento humano?

Patricia Stempfer
Enviado por Patricia Stempfer em 07/02/2007
Reeditado em 07/02/2007
Código do texto: T372917