TARDE



A tarde tem uma efemeridade danada.

Cada um a vê a seu jeito. Para cada um ela começa num tempo diferente. Vejo a tarde como um poeta que às vezes penso que sou, mas com a singularidade dos meus sentimentos, creio diferente de tantos, mesmo que poetas.

A tarde não tem hora para começar, nem para terminar. Agora, por exemplo, a minha vista, aos meus olhos, já está agonizando seu fim, tomada pela noite. E mesmo na agonia, na morte lenta e eminente, é alegre, um tanto melancólica, mas alegre. Poética com certeza.

A tarde é humilde. Contenta-se com pouco. Fica com a menor porção, espremida entre o dia e a noite, contentando-se com um pedacinho só do tempo e sempre tão linda.

Talvez por isso sempre tão saudosa, tantas vezes melancólica. Talvez porque tem vida tão curta, embora tão rica de sentimentos.

Viram? Enquanto falava sobre ela, a coitada já se foi, sem despedida, sem nem mesmo aceno. Simplesmente engolida pela noite que a cobre e a faz dormir até amanhã.

Então que venha amanhã e venha de novo a tarde, esse momento sublime que pinta cores, aroma, sabores, lembranças e sonhos na minha tela, pequena porção da minha porção poeta.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 17/06/2012
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