TRAGICRÔNICA.
 
Dizem que não fica bem ir a velórios com roupas coloridas. Este problema eu sempre tenho que resolver. Não uso preto, nem cinza e muito menos azul marinho. Minhas roupas são de flores com matizes diversos. Não tenho um vestido sóbrio, o mais discreto chama a atenção a dez metros. Gosto de amarelo ouro, laranja, coral, vermelho vivo, turqueza! Grená eu não uso porque não combina com minha cor de pele. Uma vez eu ganhei um agasalho marrom. Minha pele é castanha, ao vesti-lo, eu me senti de uma cor só. Logo passei a vestimenta para outra pessoa. Outro dia eu pensei numa situação que poderá vir a acontecer a qualquer hora. No dia de minha morte, com que roupa eu iria cumprimentar São Pedro? Tenho um vestido preto que é chiquérrimo! A blusa é toda coberta com renda guipure. Até aqui tudo bem, mas a saia... Ela tem uma abertura no lado esquerdo, uma fenda que termina no meio de minha coxa. Esse vestido é provocante! Não ficaria bem eu usar esse traje para chegar lá. Ah! Tenho também um vestido lindo que é todo branco, de linho. Porém ele é quase um tomara que caia, com alcinhas. Ele não se adaptaria à ocasião. O céu não é um clube esportivo. O melhor, aliás, o mais correto, seria alguém às pressas comprar um vestido adequado ao momento fúnebre. Eu tenho a certeza que não iria gostar dessa roupa, mas nessa altura Inês é morta conforme escreveu Camões.
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 16/06/2012
Reeditado em 25/01/2017
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