Mulher de Vida fácil

Professora de Português leciona numa classe só de meninas lá pelos seus dez anos. Outro dia, uma delas com sorriso maroto, perguntou em alta voz, o que era prostituta de que tanto falava a tevê. Ela hesitou um instante para responder. Sentiu o rosto ruborizar. Mas tarde – respondeu – para não atrapalhar o andamento da aula. Torceu para que a aluna esquecesse o assunto. Pelas risadinhas e olhares trocados bem que sabiam o significado da palavra. Deu-me vontade de mandar pesquisar no Google, disse-me. Mas já pensou se os pais pegam-nas e alegam que foram mandadas pela professora?

O Aurélio (dicionário) traz dezenas de sinônimos para prostituta. E elas têm até o seu dia: 2 de junho (Dia Internacional da Prostituta). A palavra não tem nada de escandalosa. Há até uma grife DASPU, de putas lá do Rio, copiada da DASLU, a grife famosa dos ricaços. Mas muitos preferem o eufemismo – mulher de vida fácil – criado na França em 2.6.75. Elas diziam que a profissão era “tão útil à França como outra qualquer”.

Lá pelos anos 80 e 90 surgiu a expressão “garota de programa”. Mais bonitinha, cobra mais, tem classe. A maneira de as meninas da classe média ganharem dinheiro sem que a família soubesse. E há, é claro, também os garotos de programas que atendem fregueses de ambos os sexos, principalmente as idosas que vivem sós.

Nos anúncios, o que se vê é “acompanhantes”, nunca prostitutas nem garotas de programas.

Mas elas são úteis não só no aspecto sexual. Às vezes, em algum compromisso social importante que não se pode ir só, muitos as contratam.

O dono da empresa onde trabalhava ia celebrar as bodas de prata. E a secretária alertou-me que não podia faltar e deveria levar a mulher. E ele teria dito que eu nunca freqüentava as festas da firma, nem na despedida do ano velho. E que desta vez não teria perdão.

É que a família ainda morava no interior. Telefonei e a mulher e ela disse-me. Nem pensar. Não tinha vestido apropriado, não tinha com quem deixar as crianças. Que eu me virasse...

Comentei o caso com os colegas da sala. Fácil, disseram. Contrate uma acompanhante. E deram-me as coordenadas. Dei instrução detalhada. De origem japonesa, uns trinta anos, altura, peso. Curso superior. Modo de vestir etc. E marcamos encontro na entrada do clube onde iria ocorrer o jantar.

Quando a vi, assustei. Senti-me um tanto preocupado. Era muito bonita. Vestia branco, decotado, com abertura lateral na saia. Um colar que atraia atenção. Aliás, todas as mulheres não tiravam o olhar dela.

No dia seguinte, toda a repartição sabia que tinha ido com uma garota de programa.

Não sei o porquê, mas no modo de vestir, de falar, elas denunciam quem são. Não deu para enganar. Pagar um mico desse a gente nunca esquece.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 16/06/2012
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