Viola
- Você é músico?
- Sim, eu toco viola.
- Tipo em uma dupla sertaneja?
- Dupla sertaneja? Eu tenho cara de quem toca música sertaneja? - dizia, perdendo a paciência, como sempre.
Diego Armand, era como ele se chamava. Devotou sua vida ao estudo do instrumento, suas nuances, minusciosidades e truques. Dedicou horas de sua infância e adolescência calejando os dedos nas cordas, engrossando o pescoço com a posição do instrumento, sofrendo com as dores no ombro pelo movimento do arco. Se tornou um virtuose, mestre do pizzicato e do vibrato. Sentia-se em casa nas obras de Brahms, Bach e Schumann.
- Qual é a viola?
- A viola? É aquele instrumento de cordas que se toca assim - e faz a posição tradicional.
- Esse não é o violino?
E pela enésima vez, Diego Armand tinha que explicar a diferença entre uma viola e um violino para alguém que não entende de música clássica.
- Ah! Por que você não disse logo que é um violino grande.
- Porque não é isso! Viola é viola, violino é violino! É como dizer que violoncelo é um contra-baixo pequeno - ralhava, frustado.
- Contra-baixo não é aquele que parece uma guitarra? - dizia o interlocutor, para o desespero de Diego Armand.
E foi após um diálogo desse, enquanto caminhava desolado por uma rua, que Diego Armand viu um velho senhor, com cara de sábio, tocando um instrumento que parecia um brinquedo. Sua atenção foi imediatamente atraída pelo som agudo.
- Que instrumento é esse?
- Se chama-se Ukelele.
- Ukelele - repetiu, saboreando a sonoridade do nome. Sorriu ouvindo o som de musicalidade limitada - é um instrumento muito simplezinho, não?
- Mas te fez sorrir, não fez? - perguntou o sábio homem.
E Diego Armand foi para casa, rindo-se do músico simplório que tocava um instrumento que parecia um brinquedo. “Ukelele”, repetiu, enquanto assobiava "Somewhere over the rainbow".
Depois desse dia, Armand nunca mais foi visto. Dizem que sua viola, aquele instrumento que é como um violino maior, e que não é a sertaneja, está encostada e empoeirada. Dizem também que, vez por outra, em uma praia ensoralada, podemos encontrar um homem com cara de sábio, que toca um instrumento simples.
- Qual o nome desse instrumento?
E o sábio sorri, sabendo que ao dizer o nome, ganhará um sorriso, uma exclamação e semeará um pouco da alegria simples de viver.