Até que ponto ser normal é normal?

Estudiosos do comportamento humano afirmam que o mesmo vem sofrendo de normose, a doença de “ser normal”. A enfermidade instalara-se no sistema social globalizado muito antes do que a maioria pensa. E ao contrário das demais doenças, das quais queremos distância, as massas têm trabalhado incansavelmente para contrair normose, ou se encaixar no tal padrão de normalidade. No entanto, o sujeito tem que se desdobrar para se enquadrar nos tais padrões, que não são nada fáceis. No mínimo, ele(a) vai precisar ser esbelta, ter sorriso clareado, sociável e bem sucedido(a). Mas, as exigências não param por aí; para adquirir a tal normose é preciso ter muito talento afinal o segredo do negócio é ser competitivo, o melhor.

Os conceitos de normalidade estão intimamente ligados com a forma em que o sistema constrói a identidade das pessoas. A normose, que desenvolvida para ordenar a sociedade acabou mutando, tomando forma material. Agora, ela adentra nossas vidas através de produtos e práticas que promentem felicidade. Entretanto, de onde vêm esses produtos com promessas mirabolantes, oferecendo uma realidade ilusória? Já percebeu que quando a gente compra um produto compramos, na realidade, o bem estar que nossa crença atribui àquele produto?

É muito importante prestarmos àtenção em tais ''conceitos de normalidade'', e em como eles tomam forma material em nosso dia-a-dia. Eu falo da imagem perfeita, o insano mundo fashion, e todas as outras sandices consumistas geradoras de toneladas de desperdícios que aparentemente o ser humano tem dificuldade de perceber, já que a normose tomou conta de sua psique em níveis bem mais profundos do que o próprio consegue se dar por conta.

Continuo a perguntar: quem são esses (produtos) que permitimos adentrar nossa casa, nosso corpo, nossa mente; ditando nossa forma de falar, de perceber o mundo, vestir, comer, professar nossa fé, e até sentir? Chegou a hora de realmente questionarmos esses padrões e pensar até que ponto o que está contido nessas “embalagens” pode trazer aquilo que realmente buscamos. De fato, a questão é entender o que nos motiva a querer se encaixar em padrões que não são nossos.

Um pouco de bom senso basta para percebermos que vivemos em um mundo em que o materialismo reina, e para isso mudar precisamos transformar nossos conceitos, em primeiro lugar a respeito de nós mesmos. Ademais, entender também o que nos leva à compra de ideologias alheias, as levarmos para dentro de nossas vidas, e permitirmos o controle da maior dádiva que nos foi dada pela vida - o livre arbítrio. Está na hora de descobrir quem realmente somos para sermos, então, mais originais. Ainda bem que personalidades como, por exemplo, Jesus Cristo, Joana D'Arc, Gandhi, Madre Teresa, Chico Xavier, Noam Chomsky, entre outros tantos(as) decidiram por não seguir os padrões de sua época. Ao contrário, desafiaram os “normais” de seu tempo, e assim, acrescentaram para o mundo.

Adiante, o maior dos efeitos colaterais da normose é a dependência, ou seja, condicionamentos. É um precisar disso para fazer aquilo, ou sem isso não sou aquilo, serei feliz apenas quando conseguir aquilo outro, etc. A normose limita a visão, propaga o desmerecimento do ser quando todos, exatamente todos nós somos merecedores dos prazeres terrenos e divinos, se realmente os conquistarmos com honestidade e respeito ao próximo.

Em suma, receita para o auto-conhecimento não existe. Isso é um estilo de vida, que quando compreendido através da experiência individual de cada um, e posto em prática, nos torna seres mais originais. Seja autêntico, não tenha medo de ousar, não se rotule! Não condicione a sua plenitude de vida, tampouco a tão preciosa 'salvação' de sua alma à regras de outros seres humanos que são iguais a você, confie na sua intuição e na sua capacidade. É preciso tomar cuidado para que não nos transformemos em marionetes; desfrutar do que o mundo tem de bom sim, ser escravo da ideologia materialista não! Se existe algum padrão a ser praticado, que seja o padrão do Amor!