(A Falta de) Concentração

Final de semestre, Biblioteca Central dos Estudantes, onze e quarenta e nove da manhã. Tique taque, tique taque, o relógio digital não emitia nenhum som, mas a cabeça de Gabriel reproduzia badaladas dignas de Big Ben. Vamos lá garoto, matéria, tem muito Foucault e McLuhan para fagocitar, vamos lá, a diferença entre a sociedade de controle e a disciplinar é, olha que bonitinho o menino que acabou de entrar. Moletom azul com bermuda e óculos Oakley no pescoço, provavelmente faz engenharia. Fones de ouvido, o que deve estar escutando? Se for o clichê maringaense, deve estar ouvindo um tchu tchá. Concentre-se, menino, há mais o que fazer ou pensar.

O tempo se arrastava, sentia-se em um quadro surrealista. Já havia lido cerca de dois parágrafos e, se fosse filtrar e utilizar tudo o que pensou, teria cinco artigos para publicar, teria escrito seu primeiro livro sobre sua volta ao mundo em busca da paz anterior e declarado morte à Adorno. Olhou no relógio, onze e cinquenta e três. Que bom, tempo para ler mais, não é? Voltou-se ao texto, achou melhor grifar. Pegou o marca-texto que sua mãe comprara, tinha um cheiro meio esquisito, será que vinha da tinta ou do plástico barato? Lembrou-se de um documentário que viu no Discovery Channel sobre a produção de tintas para a pintura dos caça-níqueis ilegais na Guatemala, onde ficava a Guatemala mesmo? Nunca prestara muita atenção na aula de Geografia. Ok, muito tempo gasto a toa. McLuhan. Os meios de comunicação são uma extensão do homem, isso ele entendeu, conseguiu captar a mensagem. Estava pronto para uma jornada de conhecimento, não fosse sua mãe ligando avisando que tinha chego para leva-lo embora.

DG
Enviado por DG em 15/06/2012
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