Crônica de um Fygura

A primeira vista tem-se a nítida impressão de estar olhando um dos soldado estilizados, que acabou de sair das telas de um dos filmes da série “Guerra nas Estrelas” de George Lucas. É uma figura imponente, altiva e absoluta, porém assusta, pois a partir desse momento você também fará parte do realismo fantástico de Fygura, que não se permite parar no tempo dos museus - e com passos largos caminha por entre os simples mortais, nos becos e ruelas do Centro Histórico - porquê isso impediria que o olhar do homem avaliasse com detalhes, uma arte futurista e idealista em pleno movimento. Se assim o fizesse seria o mesmo que olhar a Monalisa, O Pensador ou até mesmo o David, que repousam em paz e intocável em algum “templo” europeu. Mas o Fygura não quer ser assim, pois ele é a sua própria arte, sua própria escultura e o seu cartão de apresentação, é uma espécie de galeria itinerante. Ele quer que a sua arte faça parte do cotidiano de uma cidade onde as diferenças ainda podem dar o seu grito e esse grito nada mais é do que a arte em desfile nos palcos da vida. São gritos de negros, de marginalizados, de discriminados, revoltados, excluídos e estereotipados, retratados com maestria por Fygura, que sonha e é apunhalado pelas costas, quase que mortalmente pela realidade social, pois o Fygura permeia nosso imaginário e rezamos todos os dias para que ele não saia de lá e assim ficarmos a salvo da maledicência humana. Mas ele não se abala, não tem medo, determinado, é um Deus. E eu do alto da minha janela, nas minhas noites de solidão, quando a rua silencia, fico me questionando até que ponto o Fygura nos toca? Acredito que a sua força dinâmica, participa intimamente das nossas vidas, fazendo-nos refletir, mesmo que seja por segundos, o que a arte representa dentro dela. Penso que a vida e a arte andam lado a lado, separadas apenas por um fio tênue que paira entre a sanidade e a loucura e que se fundem no infinito de forma eloqüente e profunda em nossas almas.

Assim, ninguém jamais consegue passar indiferente por Fygura e isso só se consegue com arte, muita arte.

Fim

- FYGURA, Jayme. Artista plástico baiano, performático, músico e poeta.

NADIA VENTURA
Enviado por NADIA VENTURA em 15/06/2012
Reeditado em 03/07/2012
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