Amor de periquito
Em recentes andanças pelo Sul de Minas, deparei-me com um cidadão, empregado de um sítio, carregando um periquito no ombro. Ele criara a avezinha desde filhote e assim ela se acostumou com ele, e ele com ela, numa relação de pai para filho.
O caboclo dava alguns passos, o pássaro saía voando em curto passeio pelas redondezas, e depois, num vôo rasante, voltava a pousar de novo no ombro do seu protetor, indiferente aos bandos de periquitos que infestavam o pomar da propriedade.
O rapaz me contou que, noutro dia, encontrando-se na cidade para fazer umas compras de alimentos num mercado, foi surpreendido com a visão do seu periquito de estimação numa pequena árvore, à sua espreita. Sem saber, porque tomara um ônibus, a ave o seguira desde o sítio no longo percurso até o mercado.
Um tanto receoso, chamou o periquito com um assovio, e ele pousou em seu ombro com ar vitorioso de quem comunicava: “Pensa que vai escapar de mim?”. Um guarda florestal, vendo a cena, alertou o rapaz que manter ave em cativeiro era proibido, mas ele contou à autoridade toda a história daquele relacionamento singular.
O guarda compreendeu, mas orientou no sentido de que não mantivesse o periquito em seu ombro, ainda mais à vista do público. Sem saber o que fazer, Manoel escondeu o periquito dentro de um saquinho de papel com alguns furos, fechou a entrada, e voltou para casa.
Que extraordinário senso de orientação tem as aves!... Mas, desconfio que, além desse instinto, o amor falou mais alto e o periquito, sabendo que aquele ônibus conduzia seu parceiro, não teve medo dos desafios parta acompanhá-lo, ainda que isso pudesse ter-lhe custado a vida no bico de um predador qualquer, na lataria de um carro ou nas mãos de algum ser humano insensato.