Colarinhos Encardidos

Colarinhos Encardidos

Jorge Linhaça

Confesso que sempre me interrogo quando ouço a expressão “crime de colarinho branco”.

Claro que sei que isso se refere ao uso de camisas brancas usadas como símbolo de status social.

Só que aquele que já usou ou usa camisas brancas sabe bem que o colarinho, ao menos a parte interna, tende a apresentar um encardido que varia de acordo com o ambiente em que estejamos inseridos.

Quando se fala em política, dentro de um ambiente infecto como aquele em que se tornou o congresso nacional e seus semelhantes nos estados e municípios, é impossível imaginar que os colarinhos de algum dos ilustres representantes do povo sejam realmente brancos.

Ouço bravatas de lado a lado, de partido a partido, atestando a sua auto-inocência e valores morais elevados, atribuindo-se o papel paladinos da honestidade e do respeito ao dinheiro público e á população deste Brasil, politicamente tão carente de gente séria.

As farras com o dinheiro de nossos impostos se multiplicam geometricamente, algumas levantadas pela grande mídia e outras “esquecidas” pela mesma.

Servi como missionário em Londrina, no Paraná, cidade da qual guardo grande carinho. Lá usava camisa branca e gravata durante umas 15 horas por dia. Quem conhece o norte do Paraná sabe que lá a terra é vermelha e que é impossível, ainda que nos lugares pavimentados, escapar-se da mistura do suor com o pó em suspensão, tendo como resultado o colarinho devidamente avermelhado onde faz contato com o pescoço engravatado.

Felizmente, na maioria dos casos, basta uma boa lavagem no colarinho que ele fica “como novo”.

Já quando se trata da lama infecta da corrupção e da troca de favores, do aceitar propinas ou comprar votos necessários para determinados projetos a coisa fica feia. O problema não está no colarinho da camisa e sim no pescoço de quem o usa.

Nós como povo, assistimos inertes e acomodados aos escândalos que se sucedem, pior que isso, a morosidade da justiça, tão ágil em condenar ladrões de galinha, permite que esses maus exemplos levem anos para serem efetivamente julgados e punidos pela improbidade de suas ações e formação de verdadeiras quadrilhas.

O fato de se permitir que os próprios ladrões sejam julgados por seus pares favorece o famoso “toma lá, dá cá” entre oposição e situação.

Alie-se a isso uma imprensa que em nada é isenta e vemos um cenário digno de uma Divina Comédia de Dante.

A questão maior que me atormenta, e deveria atormentar a população como um todo, é que tais criaturas se elegem a partir de nossos votos, no entanto, assim que se veem no poder, perdemos toda a condição de bota-los de lá para fora a pontapés.

É por isso que defendo a criação da deseleição.

A cada dois anos somos obrigados a votar, então que utilizemos além dessa obrigação o direito de deseleger aqueles que não cumprem seu papel, isso aplicado a todas as instâncias.

Poderíamos deseleger deputados, senadores, presidentes, prefeitos, vereadores, governadores, sem ficarmos reféns do corporativismo que sustenta a falcatrua e a corrupção.

Quem concordar que se una nesta luta, divulgando esta idéia nem que seja apenas colocando ao fim de seus textos:

Deseleição já!