Em um parque qualquer (pode ser o seu)
Um homem olhava através da fechadura de um enorme portão de um parque infantil. Um rapaz que ia entrar no parque, ao ver a cena resolve se aproximar do senhor.
- O que o senhor está olhando por aí?
- Oi? Desculpe. Não te vi aí. Estou apenas xeretando.
- Xeretando?
- Sim. Espionando, como dizem hoje em dia.
- Mas xeretando o que?
- O parque é claro.
- E o que o senhor vê aí? As crianças?
- Não. Você não percebeu que as crianças são apenas uma metáfora? São as lembranças da nossa infância. Nossa inocência e desejo de liberdade. Nossa criatividade e bondade. Não estou xeretando elas, não. Estou de olho no parque em si.
- Perdão?
- Sim. Veja e comprove! Pessoas indo e vindo. Algumas delas você jamais vai conhecer, outras passarão pela sua vida rapidamente, outras serão permanentes. Solteiros, casais, famílias e grupos de amigos se divertem lá. As crianças brincam em cada brinquedo, cada um é uma nova experiência. Jovens e velhos, todos ali, em um só lugar, se divertindo e se lamentando ao mesmo tempo. Pessoas muito preocupadas e outras nem ligariam se o dia nublasse, pois continuariam felizes. Ricos e pobres frequentam esse lugar diariamente, assim como negros e brancos.
- E o que o senhor vê nisso tudo?
- Eu desejo estar lá naquele parque me divertindo também. Lá existe um lugar para nós que estamos aqui fora, existe ainda bancos e brinquedos desocupados. Porém não podemos ir lá.
-E por que não vamos? O senhor disse que tem lugar para mais gente.
-Você não entendeu? O parque é uma metáfora! É a própria vida e nós que estamos aqui fora temos medo dela!