A Gaiola
A Gaiola
06/03/2011
Ontem, pela manhã, bem cedo, acabara de deixar meu filho no aeroporto e quando retornava a casa fui alimentar a criação de galinhas e ficar livre para complementar minha cota diária de sono quando percebi um bater de asas ao meu lado, junto às paredes do fundo da casa. Lá estava uma velha gaiola onde meu pai criara o último canário belga que tivera. Dentro dela um pássaro amarronzado que não conseguia sair pela estreita abertura onde entrara.
Ao me aproximar ele se agitou de uma forma violenta a ponto de prender a cabeça, por alguns momentos, na fresta da grade de arame. Para evitar nova aproximação e sabendo que a gaiola estava sem o fundo improvisei uma vara com um gancho de arame na ponta e, cuidadosamente, virei a gaiola libertando o pássaro.
Após este ato de solidariedade com o mundo animal e com o meio ambiente de uma forma mais geral, tomei uma chuveirada, estava molhado pela fina garoa que caia na hora da redenção do pássaro, e fui para cama, pouco passava das 6:00 h.
Ao deitar, a primeira coisa em que passei a pensar foi por quanto tempo o pobre pássaro se engaiolou, mas logo desisti, pois não era importante. O que importava é que entrou e saiu vivo. Na seqüência pensei no motivo de lá ter entrado, a abertura era estreita e o esforço e risco de se ferir era grande. Lá não existia nenhum resto de comida. Só podia ser pelo cheiro do outro pássaro que se fora ou da comida que um dia contivera. Se fosse pelo cheiro do pássaro qual era sua intenção: dominar o território expulsando o possível morador? Era o cheiro da morte e neste caso a intenção era dominar o território desabitado? Era pelo cheiro de uma fêmea que lá procriara? Ou o motivo era por simples curiosidade? Por um desafio de um cheiro de uma comida ou de uma fêmea não existente?
Qualquer que tenha sido o motivo, e aí já havia me personificado como se aquele pássaro eu fosse, havia valido a pena, ou as penas que ali deixara.
Transferi tudo isso para minha vida e creio que para a da grande maioria daqueles que, como eu, pensam que a vida é para ser vivida e concluí que seja por que motivo for sempre vale a pena nos embrenharmos por estreitas passagens, se nos ferirmos ou se ficarmos presos sempre haverá alguém que de perto ou de longe nos libertará. Na realidade a liberdade só é uma gaiola maior que a anterior.
Geraldo Cerqueira