DOR...
A dor é injusta e profana.Marca o ritual do desamor...
Quem é cumplice da dor é puro desamor.
Quem ama não quer a dor dos amados. É difícil ligar a bondade à dor. Um universo inteiro de chão seria preciso caminhar esmagado e sufocado pela poeira da ausência de entendimento para saber a razão da dor ser de ordem natural. Ela é assim também quando não parte de nós, quando não somos sua origem.
As almas expostas ao sofrimento são como cordas da lira que se fundem na sintonia da música, e vibram no curso das lágrimas, absorvendo a realidade e fazendo do tempo a saudade de dias melhores.
Como a boa música, a dor enleva e aperfeiçoa, mas faz chegar tristeza, lembrança e saudade. Não há como fugir do destino, e ele é implacável quando mostra ao tempo um tempo precoce, que traz dor. Mas que não sejamos nós veículo da dor.
O “carpe diem”, hoje tão disseminado e saudado, é pouco vivido. Os olhos estão sempre voltados para um futuro desconhecido, pois esse é seu conteúdo claro e definido, o desconhecimento. E esse desconhecer é pleno de vazio, valha o paradoxo.
Se não há dor, que chega sem avisar, viva-se a relatividade que faz do momento uma certeza.
Viva seu prazer pessoal limpamente, vendo em todos e tudo um pedaço de seu ser, nada mais somos que um pedacinho de tudo que existe, mas sagrada e soberanamente existimos, para ser e fazer sem diluir nossa sagrada missão de viver uma vida toda, inteira e verdadeira, sem deixar manchas de memórias indesejadas, torpes e crueis, sonegadoras da solidariedade e auxílio que o próximo, nosso irmão, necessita.
Assim podemos dividir com o universo essas porções de ser e existir, repartindo, nossa alegria de viver, dom maior que a dor, também e iluminadamente de ordem natural.
Mas que a dor seja somente de ordem natural e nunca parta de nós mesmos em relação aos próximos.