Toca Odeon

Casamento ao som de Odeon. Uma ideia, feliz imaginação de amigo: Odeon, com Pixinguinha. Deveria ser a música oficial para entrada de casamentos no Brasil. E mais: exigida a gravação original com Pixinguinha. Qualquer imitação barata deveria ser rejeitada. Mesmo um coral de alta qualidade jamais desbancaria o Odeon. Basta imaginar o quanto toda atmosfera muda na primeira nota.

Desconhecia se alguém na comarca ou no país havia se casado ao som de Odeon. Restava-lhe a própria foto da ideia através da imaginação febril. Sonhava, felicidade era seu transporte. Pelo menos possuía esse compromisso de casar ao som de Pixinguinha.

Casamento ao som de Odeon, tocado pelo Pixinguinha, de Ernesto Nazaret; merecia destaque até na Constituição Federal. Lei: casam-se cônjuges apenas ao som de Odeon com Pixinguinha de Ernesto Nazaret. O próprio Pixinguinha lembrava um trílogo de padrinhos prósperos porque a felicidade tem eternidade com Odeon. Desenha na gente aquela pose imortal dos noivos, longe do vazio obrigatório que há no fundo de todo ritual. Odeon preenche a lacuna.

Casais que contraem matrimônio ao som do Odeon se amam tanto, mas tanto, que chegam abraçados na igreja. É perfeito para casamentos coletivos.

Via os pais dos noivos ao som comensal, sentados no banco grande envernizado, balançando as pernas cruzadas, movimentando os braços... Além do padre os convidados segurando cada qual um cálice do tipo tulipa para lampejo de dez mil chopes. Pura alegria compartilhada. Seria tanta felicidade que os casamentos começariam a se repetir mais do que se repelir ao som do Odeon. Perderiam a neurose televisiva do medo repentino de alguma alma irresistível vencendo no pedaço. Sem afastamentos bruscos. Com Odeon há sempre lugar na festa. Odeon acaba com este pânico remoto instintivo. Todos casam melhor com Odeon de fundo. Um grande momento matrimonial. Odeon, tocado pelo Pixinguinha!

Comprendia o quanto existiam outras canções benévolas para entrada de casamento. Houve oposição de fato. Gente para contrariar. Amigos ébrios, tontos de cerveja, tentaram lhe corrigir: Odeon fica bem em “festa de casamento”, jamais no “casamento”. Deixava para lá.

Padre Gustavo pronunciou a mais breve opinião informal sobre essa hipótese de o casamento ser realizado com fundo musical de Odeon, do Pixinguinha. Sendo do Ernesto Nazaret... Seria possível o consórcio no território nacional ao som de Odeon, do Pixinguinha ou só na primavera? Observou na agenda o período entre 23 de setembro a 23 de dezembro. E com firme tranquilidade disse: tudo fica melhor na primavera, pois amar com Odeon é basicamente floral, estupendamente espiritual.

...Algo vizinho das manhãs de setembro, mas tinha que consultar.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 12/06/2012
Reeditado em 07/06/2020
Código do texto: T3719870
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