Dia de namorar
Eu quero de presente deste dia dos namorados algo tão caro, mas tão caro que namorado algum me poderia dar. Isto que quero vou ficar sem ter, vai gerar frustração e bla bla bla, um monte de coisas. Esse presente desejado deixaria qualquer namorado reduzido a um zero monumental. Ah, sei como é, quer então saber. Ainda estou refletindo sobre se vou dizer. E pra que mesmo dizer se não vou obter? Neste dia dos namorados quero... Não, desculpas, mas não direi de forma alguma. Já sei, quer um jantar à luz de velas, dançar, amanhecer nas areias da praia. Não, tá frio, chove. Esquece. Mas se insiste, até, quem sabe, daqui até terminar o texto eu tome uma atitude e diga, enfim. Namoradas querem tudo, que chatas, mas finja. Finjamos. Você finge que me dá a lua, o sol, as estrelas, o oceano. E eu finjo receber. Fica tudo bonitinho, romântico e, daqui a uns poucos anos, desabafarei: não sei que fiz da lua, acho que a troquei por uma bolsa. O sol eu mandei embora, muito quente. O romantismo entreguei a alguns versos. Esqueci de tudo, nem sei mais que gosto senti. Não me cobre. Tudo o que dei também me esqueci. Nada peça, eu vou enganar você. E me quer mesmo assim? Pois saiba que eu não quero, logo me arrependo, mudo de ideia. Mulher muda de ideia. Isto, exatamente, mulher é isto, a própria inconstância. Não prometa o presente que por um instante imaginei. Não diga que me dá a fauna, a flora, o artificial idem. Estou agora em agonia com vontade de revelar. Digo já, é uma questão de capricho. Mulher, além de inconstante, tem a língua solta. Não morda minha língua, não a esta que me referi. Não capriche tanto nos beijos, me sufoca. E o que vou dar? Mais? Sempre dou, estou enjoada de tanta doação. Não me faça cócegas. Daqui a pouco vou dizer o que gostaria de ganhar. Claro, gostaria, um futuro que não acontecerá. Por que não vai ver o jogo na televisão? Às 3 da manhã, prometo, digo qual seria o presente, ok? Três horas, acorde. Que tanto beijo é este? Estou desconfiada, você aprontou algo, foi isto? Mais tarde você me diz, agora estou com preguiça. Não, você vai me dizer. Digo, não digo. Detesto quem me acorda. Ah, tá, eu quero não ter namorado. O quê? Toda mulher adora ter namorado. Que invenção é esta? Não quero ter namorado. Mas como assim? Eu sou seu namorado. Que sono. Explico na hora do café. Não me aperte tanto. Aperto. Tá. Eu não quero ter namorado porque eu preciso sentir de novo como era terrível não ter namorado e ficar toda jururu, chorando quando chegava este dia e as amigas ganhavam presentes e eu não. Claro que posso dar este presente. Você termina comigo, realiza o seu desejo. Depois começo tudo do zero.