Ai que preguiça!

Era uma jovem, nem feia, nem bonita, também não era dotada de muita inteligência, era do tipo que não morria porque tinha preguiça de cair, deixava de comer porque tinha preguiça de mastigar, escovar os dentes então nem se fala, já havia caído dois da frente o que a deixava com uma janela enorme, os amigos diziam até que não era mais uma janela e sim uma porta. Mas ela dizia que pobre só precisava de dois dentes, um para furar e outro para doer.

Quando perguntavam o nome dela, respondia com uma voz de quem estava morrendo “ É Creuuuuza”. Na escola dava muito trabalho aos professores, nunca fazia as tarefas de casa e nem de classe, passava a aula toda debruçada em cima dos livros cochilando... conchilando...babando...babando. Coitado era do livro se pudesse falar, pediria um guarda-chuva.

Os pais, coitados, já haviam apelado pra tudo que era santo. Dona Hermione, mãe de Creuza, fez até promessa de não cortar mais o cabelo da menina até bater no chão, mas como Creuza havia pego piolho, por passar um mês inteiro sem lavar o cabelo, a promessa teve que ser quebrada. A mãe lamentava “Só o meu Jesus Cristinho pra dar jeito nessa coisa”, mas a menina rebatia do outro lado “Se nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, será que Deus me fez quando estava deitado em sua cama descançando?”

Era tanta preguiça... mas tanta... mas tanta! Sua família sonhava com o dia em que essa preguicinha fosse embora. Mas o tempo foi passando e nada de Creuza mudar. A menina completou dezoito anos e a mãe lhe disse:

- Creuza, se você não mudar, ninguém vai querer namorar com uma moça preguiçosa!

Ela respondia:

- Ah, mãe! Arrumar namorado cansa!

A mãe balançava a cabeça e lamentava:

- Essa menina parece que já nasceu cansada.

Era um domingo lindo e ensolarado, mas Creuza não saía de seu quarto. Dava dez horas...onze horas... doze horas, e nada da menina levantar. A mãe, preocupada, mandou João, seu filho mais novo, acordar a irmã, quando um grito é ouvido:

- Mamãe, a Creuza está morta!- gritava João aflito.

A mãe correu para o quarto desesperada. Ao chegar perto de Creuza, começou a chorar colocando a filha em seu colo:

- João, liga para seu pai!- a mãe não conseguia conter as lágrimas.

Minutos depois o pai entra no quarto:

- O que aconteceu com minha filha?

- Parece que ela morreu... morreu de preguiça!- respondeu o irmão.

- Não diga isso menino do “bocão”- retrucou a mãe.

O pai autoritário, como todo chefe de família daquela época, resolve:

- Vou chamar o médico!

Minutos depois, Dr Cleonaldo, médico psiquiatra da Clínica “Doido Feliz” chega para examinar a menina:

- É ...parece que a menina não suportou...

- Suportou o que???- indagou o pai.

- A preguiça, ora - respondeu o médico.

- O senhor quer dizer que minha filha morreu de preguiça?

O médico sem dar muitos detalhes, vai logo encerrando o assunto:

- Prepare o velório da jovem!

E assim foi feito. Na manhã seguinte o corpo já estava sendo velado.

Amigos e familiares se reuniram em um momento de dor e sofrimento. A chegada do carro da funerária é anunciado. O pai vai logo tomando a frente:

- Nesse momento de dor, gostaria de prestar a última homenagem àquela que... que não saía da cama, adorava um travesseiro, mas que apesar de tudo tinha um bom coração.

Quando o pai se aproximou da garota, um soluço é ouvido. Em seguida, Creuza se levanta do caixão:

- Esqueci do lanche da tarde!

Foi uma confusão danada, gente desmaiando, gente correndo e gritando “É uma alma penada”. Mas apesar do susto, os pais ficaram alegres de ver a “defunta” viva.

simonersebastião
Enviado por simonersebastião em 11/06/2012
Código do texto: T3718550
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