Acertando no namoro
O momento parece propício à pergunta: hoje em dia se namora alguém ou com alguém? Durante muito tempo, escorado na gramática, respondi: quem namora, namora alguém. Portanto o certo é João namora a Maria e não João namora com a Maria.
– Mas como fica o programa do Sílvio Santos Quer namorar comigo? – perguntou-me certa feita um aluno mais observador. Respondi, de novo com a velha gramática, que havia uma imprecisão de regência. O correto seria Quer me namorar?, pois nesse caso o pronome me funciona como objeto direto. Mas, cá pra nós, com esse nome o programa perdia a graça e a audiência.
Hoje, tenho observado que o Sílvio estava mesmo certo. Quem namora, pode, com acerto, namorar com alguém. É o que ouvimos e lemos por aí; já está na Gramática mínima do Suárez Abreu, e o dicionário do Aurélio abona a construção. É claro que se registra ainda o tradicional namorar alguém, que pelo jeito pode ficar obsoleto, como, aliás, o próprio namoro nestes tempos de ficantes.
Suárez Abreu, na obra citada, explica o fenômeno namorar com. Ele menciona que a preposição se fundamenta na força da analogia com outros verbos que mantêm afinidade semântica com namorar. Afinal é noivar com, casar com e, embora o autor não cite, cabe acrescentar ficar com e mesmo o brigar com, que costuma acabar com as esperanças...
Cabe lembrar que há uma situação em que as duas regências não se equivalem. Assim, por exemplo, em O jovem está namorando um tênis novo, só cabe essa construção, pois não há “reciprocidade amorosa” ...
É curioso que essa força analógica, que explica a construção namorar com, parece ir na contramão de uma tendência da língua que é exatamente a eliminação das preposições. Apesar das prescrições, o que se ouve mesmo é assisto o filme (e não: ao filme), obedeço o regulamento (e não: ao regulamento), viso fazer (e não: a fazer) e por aí vai...
Enfim, discussão linguística à parte, namorando com alguém ou namorando alguém, que todos os enamorados sejam felizes!!