SOBRE A ARTE DE VIVER E NAVEGAR
"Viver não é preciso. Navegar é preciso"! Esta frase do grande poeta português Fernando Pessoa, sempre me fez refletir sobre a arte de se viver. A precisão aqui embutida é a do domínio da embarcação, da arte do navegar e diga-se de passagem, uma arte linda e extraordinariamente complexa. É preciso viver para navegar, e vivendo vamos navegando por esta vida maravilhosa. Somos muitas vezes as próprias naus, em outras capitães. O curso da vida são as marés. Marés tem vida própria, sobem e descem ao sabor da lua, se assanham com os ventos. Trazem coisas, supresas!
Sabemos que o caminho do barco quase sempre é o porto. Portos são mistérios em terra, pertencem não aos marinheiros, mas aos amores adormecidos em meio as tempestades, tufões e maremotos das paixões. Marinheiros simplesmente se afogam no run escaldante dos sentimentos ancorados nas correntes dos dormentes fincados no chão. Viver assim não é preciso, mas se vive precisamente por isso, pelo amor de se estar vivo.
Não sabemos ao certo o correto modo de viver. Não existe uma precisão absoluta, resoluta de estar aqui. Mas nos agarramos tanto a esta imprecisão, que tememos abandonar o barco da vida um dia! Ficamos assim, sem eira nem beira, sem porto nem mar, só queremos à vida poder remar, navegar sem fim, chegar ao fim do mundo, recomeçar. Viver não é preciso, navegar é preciso! Mas como não somos precisos em nosso navegar existencial, nem sempre somos barcos ou capitães, nem escolhemos todas as marés acertadamente, terminamos por viver navegando imitando sempre a arte de navegar na direção do porto que supostamente escolhemos. E assim a vida imita a arte.