Tudo é belo quando se sonha

“As pessoas não entendem que eu preciso escrever. Não vou fechar meus olhos enquanto não achar a vírgula perfeita; não vou fechar meus olhos enquanto não achar aquela palavra perfeita; não vou fechar meus olhos enquanto não achar a referência perfeita; não vou fechar meus olhos enquanto não achar o ponto perfeito.

Queria ser normal, como todos. Na verdade não. Eu queria mesmo é me desvencilhar de toda essa dor que consome meu peito de uma forma tão...

As palavras estão voando. Caindo soltas em minha mente como milhões de bolhas de sabão estourando no céu. São conexões que nem eu mesma sei se fazem algum sentido. Apenas preciso desabafar, é o que me mantém respirando.

Minha mãe, coitada, é louca, instável. Fuma como se não houvessem mais cigarros suficientes no mundo. Meu pai, aquele miserável. O que mais falar? Sinto desprezo por ele. Ser ignorada todos esses anos. Um fantasma na sala. Sim, eu, pequenina sentada naquele sofá enquanto ele assistia (com seu cigarro, mas é claro, e sua cerveja) seu jogo favorito na televisão de última geração na nossa 'aconchegante sala', como dizia minha mãe.

Talvez se eu tivesse recebido mais quando pequena não me tornaria esse ser desprezível, que não consegue terminar nada. Não sabe colocar finais em suas histórias. Rá, muito menos sabe ao certo seus começos. Uma completa estranha dentro da própria estranheza.

Vejo na minha colega de quarto, Amy, o quanto o ser humano pode ser nojento, repugnante. Ela, a menina mais popular da faculdade. Tem todos os homens ao seus pés. Já perdi a conta de quantos homens já saíram daqui, no meio da madrugada, com as desculpas mais esfarrapadas do mundo. Claro que eles somente querem sexo, mas, para fazerem um 'charme' para as mulheres ocultam esse fato, que já está bem explícito por sinal.

Amy compra tudo que quer. O dinheiro é seu melhor amigo. Ela sempre vive me aporrinhando, pedindo para irmos ao shopping , '... é por minha conta!', diz. Não quero saber de compras! Será que ninguém entende? Ninguém pensa?

Eu, aqui, presa no meu próprio casulo. Enfurnada no meu medo. Eu só quero que alguém se importe. Alguém veja nos meus olhos o que um dia eu sempre sonhei. Veja minhas fantasias. Veja o que de mais belo há.

Sempre me imagino deitada num gramado. O som dos passarinhos cantando é a melodia perfeita. Fecho os olhos. Tudo é tão sublime, cheio de paz. O vento a bater em meu rosto me arrepia. Como eu admiro essa sensação.

Queria poder expulsar esses demônios que atormentam meu peito.

Queria apenas respirar, sem que toda vez que o fizesse, doesse.

Queria apenas viver.”

Fragmentos de uma jovem.

Texto baseado no filme Prozac Nation (“Geração Prozac”).

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 11/06/2012
Reeditado em 30/06/2013
Código do texto: T3717633
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