COISAS DE MIM...

Domingo. Já é noite. Alguma vez já falei do domingo. Mas hoje, confesso, não estou a fim. Que palavras diria hoje, se meu ânimo está dos piores? Passei o dia no sofá assistindo TV. Emburriquei-me assistindo programas tolos. Depois os olhos se fecharam e não consegui assistir ao filme que queria tanto. Nem me lembro mais o nome. Mas sei que Cameron Dias e Julia Roberts eram as atrizes principais. Gosto de filmes com essas lindas mulheres. Ainda me lembro de “Uma linda mulher” e” O Máscara”, nem sei se é o nome correto. Gosto de filmes românticos e de ação. Algo totalmente oposto. O que há de verdade entre a linha do romântico e da ação? Um que exercita a tensão e o outro o excitação apesar de romântico. Não deveria estar escrevendo isso, mas sou humana e tenho meus sentimentos. Acho que fiquei vermelha... Talvez por confessar que tenho excitação ao assistir filmes. Filmes românticos me excitam mais que filmes pornôs. Esses eu detesto. Falo sério.

Abri os olhos sonolentos. No sofá azul ao lado, meu amor descansava no colo o velho violão D Giorgio. Como sempre acariciava suas cordas formando dedilhados. Ele estava sempre ali ao alcance de suas mãos. Sempre submisso. Perfeito. Parecia entender todos os seus sentimentos, embora nada pudesse fazer para mudar seu destino. Mas sei que lhe dava prazer. Um prazer diferente que inunda a alma. E completa. Nada erótico como filmes românticos que meus olhos da alma enxergam e não completa. Havia ali almas que se confundiam. Isso me fez pensar que aquele violão tinha alma, além de lhe dar prazer. Enciumada senti que falhava na minha condição de esposa perfeita. Levantei-me e o tomei em minhas mãos e ocupei seu lugar. Certamente não era o momento e a vingança se virou contra mim. O carinho não foi o esperado e o beijo não aconteceu. Estava deprimido pelos acontecimentos da semana: a resposta do emprego, a notificação da multa de trânsito. Não estava sendo fácil. Talvez apenas o violão lhe entendesse.

Mais uma vez falhei como esposa. Afastei-me sem dizer uma palavra e no banheiro derramei algumas lágrimas de frustração. Lágrimas secas que a alma guardava há muitos dias. Não por mim, mas por ele mesmo e todos os imprevistos de sua vida. Por um momento pensei que o banheiro era um divã silencioso. Quantas lágrimas foram lavadas ali pela água que escorre do chuveiro? Muitas certamente. E não só minhas...

Refeita da frustração, peguei os óculos que descansava sobre o Livro de Paulo Coelho, “Onze Minutos”. Já não leio sem eles. Abri o livro já quase no final. Devorei as últimas páginas quase com urgência. Não de terminar o Livro, mas de absorver todas as palavras ali escritas para alimentar a alma sedenta delas. Há algum tempo voltei a ler e tenho aprendido muito nessas leituras. Tenho aprendido a me compreender mais, mas também tenho me decepcionado mais. Talvez porque esperasse mais da vida e de mim e depois descobrir que a vida não é um romance de folhetim e apenas um filme de ação e tensão. Talvez fosse melhor viver na ignorância.

Mas enfim, terminei o domingo a rabiscar palavras, com o circuito escrever não funcionando como eu queria, e as últimas páginas de “Onze Minutos” a martelar minha mente. E ainda ouço vindo lá da varanda o barulho dos amigos de meu amor a ensaiar algumas músicas. Ensaiam um sonho de tanto tempo: uma Banda de música. Esse é o mundo de meu amor, sua paixão. Quanto queria que tudo desse certo! Apesar do ciúme, eu posso compreender que seu viver depende dessa sua grande paixão pela música. Lembro-me que ainda hoje, enciumada lhe falei do prazer que ele sentia ao tocar seu violão. Isso horas depois da cena de frustração. Ensaiei então alguns gestos de volúpia. Ele riu com gosto e me fez sentar em seu colo. Eu ainda amuada pelo beijo negado horas antes não resisti... Mas nos beijamos com uma violência quase necessária. Percebi que a sombra havia sumido e eu ainda podia ser uma esposa perfeita e que nosso amor era ainda maior.

Não, não faz parte de um diário esta escrita, embora tantas vezes eu quisesse escrever um. Talvez eu lhe desse o título de “O Silêncio de um diário”. Mas isto seria um compromisso muito sério comigo mesmo e depois sempre tive a impressão que diários são coisas de meninas adolescentes. Talvez eu esteja errada. Enfim...

Agora tenho em mãos “Tudo Valeu a Pena” de Zibia Gasparetto. O assunto do livro não é o que eu acredito, mas como já li uma de suas obras, sei que posso aprender muito com ela. Acho que estou na fase de apenas ler. Ou descobrir... Apesar de meus quarenta e poucos anos. E existe idade para descobrir alguma coisa? Acho que essa é a melhor idade. Falo sério. Mas agora pouso a caneta e mergulho nas letras que minhas retinas buscam avidamente...
Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 06/02/2007
Reeditado em 10/12/2008
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