O PROIBIDO DIARIO SEXUAL DOS HOMENS – XI

Já sei que dizer que o mundo parou naquele instante e desabou sob seus pés é muito dramático e repetitivo, mas é a realidade, foi o que aconteceu, ok?

Flora fez o comentário e o lanche chegou. Um cachorro quente sem ervilha e Guaraná pra ele, e um X burguer com fritas e Chocoleite (o de garrafinha, porque é o melhor hein!) pra ela.

Robertinho olhou para a garrafa de Chocoleite e lembrou das viagens em família quando era menor. Sempre que parava em algum restaurante de beira de estrada, ou posto de gasolina, ele pedia um daqueles, era delicioso, e esses de lanchonete de beira de estrada então, parecia um lote especial do produto, pois tinha um sabor indescritível... Não é fazer “merchan”, mas é a verdade, vai dizer? Igual Coca Cola (tá, eu ainda vou ganhar algum dinheiro com isso), a Coca cola mais gostosa é aquele média de garrafa, e em bar! Chega a arranhar a garganta de tão gelada, você tamborila os dedos no vidro, tenha tirar um pedacinho do rótulo com a unha e ela acaba rapidinho, quer ver se tomar de olhos fechados, igual nas propagandas da TV! Essas coisas ficam tão boas, porque quem bebe adiciona uma grande dose de aventura e sonhos.

Mas devaneios a parte (Ufa, achei que não ia parar nunca de falar de Chocoleite e Coca Cola), assim que os pedidos chegaram, Robertinho pensava na resposta e ao mesmo tempo pensava na parada do Chocoleite e Coca cola (Juro que não estou lucrando nada mesmo com isso), ela pegou seu Chocoleite e chupou o conteúdo no canudinho, olhando pra ele com aquele ar de safada. Que maravilha, não há homem que não pense besteira quando uma mulher faz isso. Ele conseguiu imaginar ela nua, em um deserto, com os cabelos esvoaçantes e muito Chantily nos mamilos... Nada a ver isso, mas Robertinho gostava de chantily e peitos, automaticamente imaginava que ambos juntos também seriam bons. Flora perguntou de novo o tirando da transa, quer dizer, do transe: - E aí,você também é gay né, se demorou pra responder é por que é! Achou que eu não ia notar né, mas eu sou expert nisso priminho!

E enquanto ela mastigava de boca aberta, e ele admirava sua saliva se evolvendo com o hambúrguer e a batata frita colando na sua gengiva, defendeu-se: - Não, peraí, nada disso. Eu sou macho, homem Flora, homem mesmo. – Imaginava Hulk, Thor e um homem das cavernas gritando na sua alma. – Tá louca? Meu negócio é mulher, não gosto de homem, não sou gay não! – E a palavra não foi repetida mais 3467 vezes, pra reafirmar a causa. Um casal de idosos em um mesa do outro lado da lanchonete observava empolgado a defesa do garoto. A senhora o olhava fixo, e euando ele notou, ela fez um sinal de positivo para Robertinho. O senhor mostrou o dedo médio, fazendo um pênis e disse: - Yeah garoto!

Flora pareceu se convencer, mas ainda relutou: - Tá bem, tá bem. – Hambúrguer que daria Uma vaca inteira estava grudada em um de seus caninos. – mas e esses seus jeitinhos?

-Sei lá, eu sou diferente, sou um cara sensível!

Fala sério, o garoto foi muito bem, altas respostas. Ele já estava guardando esta. Muito bem pensada e isso hoje em dia, conquista muita mulher hein.

Flora fez uma feição surpresa e assentiu com a cabeça. CAUSA GANHA! UFA!

Chegando em casa, sua mãe preparava um bolo e ouvia Julio Iglesias, era fã! Ela cantarolava junto com caras e bocas, fazendo passos, enquanto quebrava ovos e adicionava farinha a tigela. Quando viu os adolescentes chegarem, parou e começaram a conversar coo se nada tivesse acontecido. O pai de Robertinho chegou um pouco depois, e notando a presença do filho e também da sobrinha, fez um teatro básico, buscando informações cheio de ansiedade:

- Que bom que já chegaram. Mas e aí como foi o passeio, como foram as compras? Compraram muitas coisas Adão Roberto? Os preços estavam bons? Deu pra aproveitar bastante as mercadorias disponíveis?

O desanimo de Robertinho revelou a indesejada resposta: - Olha pai, os preços até que estão bons, mas o problema é a minha moeda, ela não paga esse produto.

Flora estava em outro cômodo, mesmo assim ouviu tudo e riu com a resposta. Mais tarde, enquanto assistiam o Jornal nacional só o garoto e o pai na sala, ele contou o caso, e o pai não sabia o que falar, nem tinha na verdade, o que falar. Um olhar dele fez Robertinho entender que algumas coisas na vida eram assim mesmo, sem solução, porque na verdade, não são um problema.

Mas o assunto que pra ele tinha sido esquecido, voltou a tona, e o fez pensar se Flora havia mesmo acreditado em sua história...

Tudo bem, já tá parecendo meio conto de fadas, meio fábula esse negócio. Olha o nome dela: FLORA. E ainda bem que não tá acompanhada da irmã: FAUNA. Já pensou:Flora e Fauna, as irmãs da natureza! E então elas dançando nuas, numa floresta com um belo riacho e cheio de animais em volta. Longos cabelos, cútis perfeita, aquela cara de Monalisa, vento balançando tudo, e elas nuas fazendo carinho uma na outra. Ok, pensaram besteira nessa coisa de fazer carinho né? Pervertidos! E eu confesso que estou mesmo ficando viciado nesse negócio de expor os personagens nus, até a bisavó de Robertinho vai estar nua daqui a alguns capítulos, MENTIRA! Mas devaneios a parte, isso não é romance, nem putaria, só um climão básico.

Mas independente de Flora ter acreditado ou não, o importante era que ela não espalhasse suas suspeitas, pois Robertinho sabia que na vida não era preciso ter boa fama, desde que não tivesse má fama! Sabia que isso poderia arruinar qualquer reputação de garanhão pegador, principalmente para ele que estava começando. Mas ele pesou ainda mais além, entrou em um surto rápido e profundo: E se ele fosse mesmo gay? Homossexual, bicha, mona, pipiqueti, viado!!!... Pipiqueti, essa é nova né? Inventei agora! E Robertinho passou a se questionar da própria masculinidade. Ela era homem, macho e tal e coisa porque essa era a criação que ele tinha, mas também se fosse já teria descoberto né, bichinha atrasada, presa no armário, ninguém merece! ... Seus pais o haviam criado assim, a sociedade exigia que ele fosse assim, mas e se ele quisesse ser diferente? Se ele precisasse ser diferente? Se ele não fosse feliz sendo heterossexual? Sua família ainda o amaria? As pessoas continuariam o olhando e tratando como o faziam? O que mudaria em sua vida? Tudo o que ele sabia sobre o mundo da homossexualidade era de homens beijando e se casando com homens, mulheres o mesmo esquema. Um sexo repudiando o outro, preconceito, mas também muita diversão, respeito, consciência da importância de opiniões e do próximo, e agora? Ele estava realmente confuso, precisava conversar com alguém, precisava de conselhos. O pai? Não, dessa vez Robertinho achava que ele não era a pessoa mais indicada (o medo). Mas era um homem (ou não) de sorte, sob o mesmo teto alguém que parecia ser uma especialista em homossexualidade estava disponível. Precisava de uma consulta de Flora.

Foi despertado de seus pensamentos desesperadores, daquela coisa emocionante e alucinante dento do peito, por um comercial de Gilette. Não qualquer lâmina comum que a gente chama de gilete, mas a marca própria mesmo, a Gilette!E esses comerciais são sempre bem estranhos. Um cara bonitão, o boa pinta, sem camisa em um banheiro fantástico, já sem nenhuma barba em evidencia, mas cheio de espuma, passando aquela lamina devagar, com precisão, que nunca se corta e ainda sorri, fica feliz e faz aquele carão de “sou muito foda e pego todas, desculpe” , isso tudo só porque está fazendo a barba, francamente hein!

E barba era outro assunto que o intrigava, e o comercial o despertou (Nossa senhora do relóginho, alguém dá um cuco pra trocar uma ideia com esse guri, porque ele tá despertando demais), primeiro por que tinha de nascer pelos ali no rosto também? Final, tirando as espinhas, ele tinha um rosto bonito, e a barba viria a estragar tudo. Seu pai por exemplo, não tinha o rosto tomado por pelos, mas sua barba era grossa, espessa, e isso devia dar um baita trabalho pra fazer! Pensa na mãe de obra e no gasto. Tinha já outros caras que faziam estilo com isso, deixavam ‘por fazer’, outros deixavam crescer mesmo, até virarem espectros de profeta, Hagrid ou Dumbledore de Harry Potter. Já outros com quase nada, ficavam ‘barbudos’, mesmo com meia dúzia de pelos, e ficavam se achando! E Robertinho era ligado naquelas paradas também,sabia, através de assuntos a parte da aula de história, que antigamente a barba era feita com uma lamina sem aquela gosminha que desliza, e pelo barbeiro! Como assim um outro cara vai colocar uma lamina afiadíssima no meu rosto sem garantia nenhuma? Ainda bem que estes tempos passaram. E essa era uma das coisas que os homens prezavam, boa parte fazia deste carma, verdadeira punição, um pró na arte da atração.

(Rimei, ai que ridículo! Vamos parar com essa nojeira, pois rimar demais já é besteira)

Por exemplo, uma grande curiosidade das mulheres era fazer a barba de seu parceiro, e estes raramente deixavam, pois não sentiam-se seguros, e sabiam que elas não tinham noção da importância daquilo!

Na escola, o pessoal do terceirão, obviamente era o mais barbado, já a turma deles, alguns possuíam aquele bigodinho e extensão das costeletas, com penugens. Com exceção de dois garotos mais desenvolvidos que já possuíam leve barba sim. Robertinho era um desses portadores do bigodinho. Alguns insistiam em manter essa coisa, que parecia postiça, esquisita a beça. E com aquele comercial Robertinho teve a luz de tirar os pelos do bigode. Olhou para o pai, pediria ajuda? Não! E faria como a maioria dos homens aprende a fazer a barba: se machucando, treinando com o tempo, e descobrindo sozinhos.

No banheiro tudo estava lá, já havia checado outras vezes que o material necessário ficava lá, no banheiro que ele usava. E era como uma operação de vida ou morte em que todas as ferramentas precisavam estar presentes, mas neste caso era a primeira vez do médico. A chance do paciente morrer era grande.

Lamina de barbear, já em seu aparelho (aquele suportezinho) A gosminha da lâmina ainda estava bem espessa. Creme de barbear, pincel de barba e água! Segundo o que sabia, o primeiro passo era molhar o pincel na água, ele murchou. Na sequencia, colocar um pouco do creme no pincel. Fez isso, bem pouquinho, porque não sabia o quanto aquela merda poderia render. Depois molhou o bigode. Maldita água gelada! Molhou o pincel de novo e passou no bigode. Aquilo era quase uma massagem, mas muito gelada. Espalhou bem, sem querer degustou o sabor leve amargo do creme, e para finalizar, ela: o monstro chamado gilete! Suas mãos tremiam, ele olhava fixamente pelo espelho e pensava: Você consegue, é apenas um Robertinho meu caro bigode... Ou ao contrário. O primeiro contato e ele fechou os olhos. NÃO!!!!!! Com os olhos fechados é claro que cortaria a própria garganta e morreria, achariam seu corpo já sem sangue apenas horas depois. Então abriu os olhos, apertou o cabo do suporte e foi firme, retirou todo o creme de um lado e olhou com os maiores olhos que poderia. Era incrível como havia conseguido fazer aquilo sem nenhum machucado. Lavou a lamina, estava pronta para o outro lado. Mais uma vez respirou fundo, fechou os olhos. NÃO!!! Que coisa né rapaz! Passou novamente no outro lado, e na ponta do bigode tremeu mais forte e sentiu seu rosto rasgar, o ardido e dor de um corte profundo que poderia lhe custar a vida.

Lavou bem o bigode, não havia mais nenhum pelo (como se fizesse muita diferença com o que havia anteriormente), e havia feito um mínimo corte, mas que sangrava sem parar. Que ódio cara, tava tudo dando certo! Mas era um ótimo resultado para uma primeira vez. Passado o drama, esperou no banheiro com meio rolo de papel higiênico pressionando a ferida. Apenas um pontinho vermelho marcava território.

O pai notou a “mudança”, mas nada disse, apenas sorriu como se dissesse: “esse é meu garoto!” A mãe nunca notava estas coisas, e o irmão claro que notou e fez questão de quase gritar no café da manhã do dia seguinte: - Olha só quem fez a barba gente! Adão Roberto Soares, o homem sem bigode, e quase sem rosto também, porque pelo jeito tirou um pedaço! – típica “filhadaputice” mais uma vez, e depois que Robertinho esmigalhou um pão salgado de raiva, até riu junto. Flora olhou e disse: - O bigode era sexy! – E deu uma leve piscadela, que o causou borboletas no estomago, mas o manteve irredutível.

No dia seguinte, sentia-se o cara, passava pelas meninas que conhecia, e de queixo alto, as cumprimentava, mexendo bem os lábios e maxilar para mostrar que havia feito o bigode! Poucos notaram, pouquíssimas piadas e ninguém levou muito a sério, afinal estavam quase todos na mesma situação. Mas agora orgulhava-se, na sua longa trajetória de macho, mais um passo estava cumprido: já havia feito a barba! Só o bigode, mas vamos deixar ele levar vantagem.

A poucos metros de casa, acompanhado do irmão e do amigo Armando Otávio, pode ver a prima Mais a frente abrindo o portão de casa. Aquela leveza, aquela graciosidade, aquele delicia, aquela gostosa!... Gostosa, mas como diz o ditado: da fruta que ele gostava, ela comia até o caroço!”

E quando eles chegaram no portão, Armando Otávio pediu pra Robertinho esperar, abriu a mochila e tirou um envelope, era seu convite de aniversário, no próximo sábado.

- Sabe que você é meu melhor amigo, e vou ficar bem chateado se não aparecer. Se quiser, pode ir acompanhado... De uma menina, é claro. No próximo sábado, vai ser simples, mas bem legal, vai ser bem massa. Vê se arruma uma “companhia”, eu já arrumei a minha! – e ele se foi sorrindo, se bancando de gostoso.

Gordo filho da mãe! Isso era baile de debutantes ou o que? Que palhaçada de companhia era aquela? Armando sabia que até uma solitária tinha mais opções de companhia do que Robertinho. Sabia que até Edward mãos de tesoura tinha mais opções de garotas querendo andar de mãos dadas com ele,do que Robertinho!

Mas o garoto teve uma luz, uma grande ideia para sua “companhia”, e também entrou sorrindo, se bancando de gostoso, com vontade repentina de tomar um Chocoleite ou uma Coca cola, e ele já sabia quem convidar para a festa, e nem tentem adivinhar, porque não é isso que estão pensando!