As Damas do Trem
Eu sou Caio. Faltei à escola. Tinha que ir ao dentista. A consulta foi rápida. Junto com meu pai vaguei pelo centro do Rio Janeiro até a estação da Central do Brasil. Enquanto comia um salgado, meu pai comprava as passagens. Eu apenas ouvia todas aquelas vozes que a locutora da rede de trens fazia. Era uma hora da tarde, e fazia um calor desértico. Meu pai e eu decidimos entrar em no vagão central. Imaginávamos um trem moderno, mas era velho. Os vagões eram juntos e tinham as portas abertas. As pessoas podiam transitar entre eles tranquilamente e sem nenhuma medida de segurança. Enfim andou. Não estava cheio, mas havia uma boa quantidade de pessoas.
Durante toda a viagem, meu pai não agüentou as mexidas do vagão, e caiu no sono. Eu estava segurando uma garrafa d’água e apenas via as pessoas passando. Pensava sozinho. Quando chegamos à estação do Engenho de Dentro, o trem ficou escuro. O moderníssimo estádio do Engenhão brilhava os meus olhos. Por causa da luz solar, ficara mais claro. De repente uma jovem morena entra no nosso vagão e senta-se a minha frente, apoiada na parede de trem. Era uma morena espetacular. Magra, cabelos lisos e negros; olhar sensual e despreocupado; cílios grandes, como uma gata. Usava uma calça jeans e uma regata branca, carregando nos ombros uma bolsinha. Minhas atenções viraram-se a ela, que ouvia tranquilamente músicas vinda de seu celular. Uma estação depois, entrou um homem, aparentando uns quarenta anos, olha para o vagão, vê lugares vazios, mas senta-se ao lado da princesa. O rapaz tinha o cabelo penteado para o lado, olhos castanhos e olheiras profundas; bochechas vermelhas e vestimenta comum. Ver esse homem ao lado da moreninha não me agradou. Ele não parava de olhá-la. Parecia um cachorro admirando um frango assado. Tentei me distrair, mas não dava. Era percebível que a moça não estava confortável. Depois de alguns minutos, uma mulher toda de preto passa na nossa frente. Ela usava uma saia grande, um sapato, uma camisa mostrando os braços e os cabelos amarrados. Ela passou por nós distribuindo um folheto que dizia:
“Ajude-me, por favor. Não tenho dinheiro. Preciso muito da bondade de vocês. Estão vendo essa criança na foto. Ele é meu filho e tem leucemia. Gostaria muito de contar com a compreensão de vocês, apenas com uma pequena quantia. Deus os Abençoe”
Fiquei bastante emocionado. Mexi na carteira e tirei R$ 1,00. Quando dei o dinheiro à mãe da criança, a morena olhou para mim. Logo pensei que ela ajudaria. Enganei-me. Ela deixou o folheto do banco. Foi em direção à porta e saiu do trem. O estranho homem ficou olhando e foi para outro lugar. Estava ali só por causa dela. Em relação à moreninha, me iludi. Talvez não tivesse tanta bondade quanto beleza. No final a pobre mãe pegou meu dinheiro, e com um sorriso no rosto me disse: “Obrigado, Deus o abençoe”