Três Grandes Craques

Vemos nossos craques de grande talento, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, que param de jogar muito cedo, quando ainda teriam muito a dar pelos clubes e seleções, ou se não param cedo ficam enganando nos clubes que os mantém a peso de ouro. Exceção seja feita a Romário que jogou até que suas pernas o convidassem a parar, mas sempre fazendo gols. Pelé não conta pois estamos falando aqui, apenas de jogadores “normais”.

Foi ai que eu me lembrei de três grandes jogadores: dois argentinos: Sastre e Pedernera, e um uruguaio: Villadonica.

Antonio Sastre, que havia estreado em 1934 como titular do C. A. Independiente de Buenos Aires; Pederneira que em 1939 era titular do C. A. River Plate, também de Buenos Aires, e Villadonica, que em 1934 era titular do Penarol de Montevidéu. Os três atuaram muitas vezes em suas seleções. E por onde passaram deixaram saudades, e só pararam com idade avançada, 40 anos ou mais.

E deve-se esclarecer que não fomos buscar nos jogadores brasileiros exemplos de longevidade no futebol dos anos 30 e 40 por que temos poucas informações. Por exemplo, Grané, Nerino, Petronilho, Preguinho, Heitor, Amilcar, Feitiço, Neco, Filó, Gambarota, Rato, De Maria, e muitos outros jogaram até quando o físico aguentou. Sabemos que Arthur Friedenreich jogou até os 40 anos, quando pelo Flamengo fez em torno de três partidas.

Mas vamos aos personagens de hoje.

Seu nome era Segundo Villadonica. Veio do Uruguai. Era craque da Seleção celeste, e estreou no C. R. Vasco da Gama do Rio de Janeiro em 11 de junho de 1939, num Vasco 2 x 0 Flamengo, no estádio da Gávea.

O Flamengo formou com Valter, Domingos da Guia e Osvaldo; Jocelino, Volante e Médio; Sá, Gonzáles, Caxambú, Leônidas da Silva e Jarbas. O Vasco formou com Nascimento, Jaú e Florindo; Coloçero, Zarzur e Argemiro; Orlando, Villadonica, Fantoni, Gandula e Emeal.

Villadonica ficou no Vasco até princípios de 1942 e veio para o Palestra, que por decreto do Senhor Getúlio Vargas, ditador do Brasil na época, mudou seu nome para S. E. Palmeiras. Villadonica estreou, ainda, pelo Palestra, em 26 de junho de 1942, contra o São Paulo Railway (o S. P. R.), atual Nacional A. C., da Rua Comendador Souza. O jogo aconteceu no Parque Antártica com a vitória do Palestra por 3 x 2.

O Palestra formou com Clodô, Celestino e Junqueira; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio Cristóvão do Pinho, Valdemar Fiume, Echevarrieta, Villadonica e Lima. O S. P. R. formou com Cetale, Celso e Negreiros; Correia, Spinola e Vicente; Tampinha, Passarinho, Guanabara, Nélson e Duzentos.

Villadonica jogou até 1946 no Palmeiras, sempre bem e muito disciplinado. Depois ainda foi ser técnico de vários times. Quando algum iluminado escrever a história do Palmeiras, Villadonica deverá ter uma página especial pela dedicação e amor às cores alviverdes.

Don Antonio Sastre é o nosso segundo homenageado. Sim, homenageado, pois escrever sobre jogadores como Sastre não deixa de ser uma homenagem. Desde 1925 Sastre já despontava nos juvenis do C. A. Independiente, do bairro de Avellaneda, em Buenos Aires. Estreou pelos “vermelhos”, como titular, em 11 de novembro de 1932 em partida contra o C. A. River Plate. Sastre entrou para substituir o grande ídolo dos anos 20, Alberto Lalín, que teve de parar devido a uma contusão no menisco do joelho direito. O Independiente formou com Macarrone, Fazio e Lecea; Ferrol, Colaço e Arminana; Roberto Porta, Sastre, Secoane, Ramos e Betinoti.

Sastre, sempre com enorme categoria, foi titular do Independiente e da Seleção Argentina por muitos anos. Em 1932, e nos anos de 1934, 1935 e 1937 o Independiente foi vice-campeão argentino.

Em 1938, finalmente conquistava o título que não conseguia desde 1926. Nesse ano a linha ofensiva formada por Sastre, Vicente de la Mata e Arsenio Erico, bateu recordes de gols.

Sastre atuava em qualquer posição. Por duas vezes, contra o Penarol e contra o São Lorenzo teve de atuar no gol e o seu time não sofreu gol. Em outra ocasião, Guilhermo Stábile, grande centroavante da década de 30, era o técnico da Seleção da Argentina e vendo a quantidade de atacantes que tinha pediu a Sastre que jogasse de médio volante.

Conclusão: Sastre foi o melhor jogador em campo. Só para ilustrar, a Argentina, nesse dia, tinha o seguinte time: Gualco, Coleta e Montanhês Sastre, Peruca e Lazzati; Rinaldo Martino, Vicente de la Mata, Baldonedo, Pontoni e Pederneira. Estes cinco últimos eram todos centroavantes. Coisa que também Zagalo usou na copa de 1970, com muito sucesso: Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivelino. Todos geniais atacantes se revezando nas posições do ataque.

Mas voltando a Antonio Sastre, ele estreou oficialmente pelo São Paulo F. C. contra o Santos F. C., no dia 6 de maio de 1943. Resultado: São Paulo 6 x 1 Santos, no Pacaembu. Sastre ainda estava se adaptando ao futebol brasileiro mas veio trazer mais técnica e entusiasmo ao tricolor que se preparava para grandes conquistas, como os campeonatos de 1943, 1945 e 1946.

Nessa partida da estréia de Sastre o São Paulo formou com King, Piolim e Florindo; Zezé Procópio, Zarzur e Noronha; Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva, Remo e Pardal. O Santos jogou com Ciro, Américo e Ari Silva: Ayala, Gradim e Antero; Cláudio Cristóvão do Pinho, Lupércio, Magnones, Antoninho Fernandez e Rui. Leônidas fez três gols, Remo marcou duas vezes e Luizinho para o tricolor. Para os santistas Rui descontou.

Assim começava a trajetória de um dos maiores jogadores argentinos no Brasil. Trajetória vitoriosa que terminaria, num jogo oficial, em 10 de novembro de 1946 contra o Palmeiras coroando sua permanência no tricolor.

O São Paulo sagrou-se campeão de 1946, contra a S. E. Palmeiras vencendo por 1 x 0, gol de Renganeschi, formando com Gijo, Piolim e Renganeschi; Rui, Bauer e Noronha; Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva, Remo e Teixeirinha. O Palmeiras jogou com Oberdam, Caiera e Gengo; Og Moreira, Túlio, e Valdemar Fiume; Lula, Lima, Villadonica, Canhotinho e Mantovani.

Mas a torcida do “mais querido” exigiu uma partida de despedida de Antonio Sastre, no Brasil. A despedida deu-se num amistoso contra o C. A. River Plate. E o São Paulo formou com Gijo, Piolim e Renganeschi; Rui, Bauer e Noronha; Luizinho, Sastre, Leônidas da Silva, Remo e Teixeirinha. O River Plate, de Buenos Aires formou com Carrizo, Vaghi e Ferreira; Iácono, Rossi e Ramos; Munhoz, Pedernera, Di Stéfano, Labruna e Lostau.

Sastre voltou à Argentina e ainda atuou pelo Gymnasia y Esgrima, de La Plata, ajudando esse time a se manter na 1ª divisão portenha. Quando parou definitivamente, deixou um exemplo que muitos jogadores argentinos queriam imitar.

Vamos agora falar de outro grande jogador: Adolfo Alfredo Pedernera. Pedernera desde criança era vidrado numa bola. Nasceu a 15 de novembro de 1918 e faleceu a 12 de maio de 1995. Foi considerado pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol, um dos melhores jogadores do século XX.

A carreira de Pedernera foi assim: Na adolescência foi gandula do Racing Clube, onde seu irmão Raul Pedernera jogava. Tentou começar no Racing mas não lhe deram muitas oportunidades. Torcedores do Huracán quiseram leva-lo para a equipe de Parque Patrícios, mas um convite oficial do River Plate o levou a tentar a sorte nos “Millonários” onde, logo, iria se tornar um dos titulares do River.

Pedernera estreou aos 17 anos contra o Ferro Carril Oeste, onde jogava o famoso De La Torre, grande zagueiro da Copa do Mundo de 1930 que formava com Botasso, De La Torre e Pasternoster o trio final da Seleção Argentina, até hoje lembrado.

De la Torre elogiou o seu futebol, antevendo a Pederneira um grande futuro. E nos 11 anos em que jogou no Clube ganhou cinco títulos de campeão argentino. Jogava bem em todas as posições do ataque. Era canhoto mas tinha muita habilidade com a direita, também.

No começo de carreira, pelo River, jogou ao lado de monstros sagrados do futebol Argentino como Bernabé Ferreira, Carlos Peucelle, Renato Cesarini e Alfonso Libonati. Já na década de 1940, formou no maior ataque de um clube argentino, de todos os tempos: Carlos Munhoz, José Manoel Moreno, Alfredo Pedernera, Angel Labruna e Feliz Lostau.

Pederera saiu do River Plate em 1947 e teve uma pequena passagem pelo Atlanta, um clube mais modesto de Buenos Aires, e foi para o Huracán. Alguns meses depois estouraria uma greve dos futebolistas argentinos, isto em 1949. Recebeu uma oferta irrecusável da Colômbia, onde muitos jogadores do Uruguai, do Brasil e da Argentina foram atuar.

A Colômbia formou a famosa liga pirata, não filiada à FIFA. Pedernera foi para o Millonários de Bogotá, junto com outros sul-americanos e, em 6 anos ganhou 4 títulos, o que não era tarefa fácil visto que os outros clubes colombianos formavam verdadeiras seleções. Alguns, até, com jogadores ingleses que ouviram o chamado do Eldorado colombiano.

Em 1955 Pedernera regressou ao Huracán, já com 37 anos. 20 anos de futebol ainda jogando um grande futebol. Parou e recebeu um convite do C. A. River Plate para ser o treinador de suas equipes de base.

Começou nova carreira.

Ainda foi técnico do C. A. Boca Juniors, do C. A. San Lorenzo, da Seleção Argentina, e ainda conseguiu classificar a Colômbia para sua primeira Copa do Mundo, no Chile em 1962. Na Colômbia, Pedernera era adorado por todos.

O que dizer mais de Adolfo Alfredo Pedernera? Cronistas argentinos que o viram jogar o consideram melhor que Diego Maradona. Foi campeão argentino de 1936, 1937, 1941, 1942, e 1945, campeão colombiano de 1949, 1951, 1952 e 1953. Campeão Sul-americano de Seleções, pela Argentina, em 1941, 1942, 1945 e 1946.

Laércio
Enviado por Laércio em 10/06/2012
Reeditado em 10/06/2012
Código do texto: T3715868