Uma santa de nossos dias

Que misteriosa força leva uma jovem a abandonar vida confortável para se dedicar a pobres, doentes e marginalizados? A trocar cristais e joias por cuidado de leprosos? Madre Teresa de Calcutá, falecida aos 87 anos de idade, no dia 5 de setembro de 1997, experimentou essa força. Agnes Bojaxhiu, seu nome de batismo, com 18 anos atendeu à vocação para a vida religiosa. Ingressou na irlandesa Congregação das Irmãs de Loreto, onde, por devoção a Santa Teresa do Menino Jesus, adotou o nome pelo qual se faria conhecer no mundo inteiro.

Em 6 de janeiro de 1929, desembarcou no porto de Calcutá, na Índia. Depois de Londres, era então a maior cidade do Império Britânico. Por 16 anos lecionou Geografia às filhas da burguesia local. Até que, em 1946, durante uma viagem de trem, recebeu o chamado interior, por ela entendido como uma ordem. “Tive que abandonar o conforto do convento, abrir mão de tudo e seguir Jesus servindo-o nos mais pobres dos seus pobres”.

Tinha 36 anos. Com permissão da Santa Sé, fundou nova família religiosa para “cuidar dos doentes e moribundos das favelas, para educar as crianças de rua, socorrer os mendigos e abrigar os abandonados”. Era a Congregação das Missionárias da Caridade, hoje com mais de 5.000 irmãs, 500 irmãos consagrados e mais de 4 milhões de irmãs e irmãos leigos espalhados pelo mundo. A decisão lhe veio quando, ao caminhar pelas ruas de Calcutá, tropeçou no corpo de uma moribunda. Parou, fechou os olhos da mulher, fez o sinal da cruz e orou a seu lado. Pensou: “Nesta cidade os cães têm tratamento melhor do que os humanos”.

Dia seguinte, na sede do município, pediu a um representante do prefeito “um lugar onde eu possa receber os moribundos e ajudá-los a comparecer diante de Deus com dignidade e amor”. Foi-lhe cedido um espaço que abrigava peregrinos hindus em visita ao templo da deusa Kali, padroeira de Calcutá. Em torno dessa área os devotos, quase todos miseráveis, se reuniam para morrer, na esperança de serem cremados nas piras funerárias do templo.

A presença daquela cristã de crucifixo no peito causou surpresa e indignação. Hindus ortodoxos acusavam-na de estar ali para converter ao cristianismo os moribundos. Vieram ameaças e insultos. Diante de opositores Teresa se punha de joelhos e dizia: “Matem-me. Assim irei mais cedo para o céu”.

Delegações foram às autoridades pedir sua expulsão. O caso foi levado à delegacia de polícia. O delegado prometeu decidir depois que investigasse o trabalho de Teresa. Encontrou-a curando um velho cheio de feridas. “Meu Deus, como você pode fazer isso?” perguntou cheio de admiração. Mais tarde, ao grupo de fanáticos, anunciou sua decisão: “Prometi a vocês expulsar a estrangeira e cumprirei a promessa. Mas só depois que suas mães e suas irmãs vierem aqui fazer o trabalho que ela faz”.

Ninguém mais tocou no assunto. Ao contrário. Passou a aumentar o número dos que a procuravam em busca de ajuda física e espiritual. Primeiro, os pobres e doentes, sobretudo idosos. Em seguida, crianças e jovens. Depois, até gente da burguesia hindu em busca de ajuda. Senhoras da sociedade passaram também participar do trabalho. Em 45 anos, Madre Teresa recebeu em seu abrigo mais de 100 mil pobres, moribundos e famintos.

À pergunta sobre como socorrer e alimentar tanta gente, respondia: ”Deus cuidará disso”. E ele cuidou. À medida que número de pobres avultava, o mesmo ocorria com a quantidade de alimentos doados pela população rica de Calcutá.

Depois de moribundos, crianças e jovens, Teresa voltou sua compaixão aos leprosos. Em Calcutá, havia milhares. Num terreno doado pela Companhia Ferroviária da Índia, ela ergueu um abrigo para alojar os mais doentes. Em pouco tempo, eram centenas, atendidos como seres humanos. Como o número só crescia, para os leprosos ela construiu, com ajuda da população hindu, quase uma cidade inteira, a que chamou Shanti Nagar, ou Cidade da Paz.

Em todas as suas obras, a franzina religiosa construía primeiro a capela. Dizia que nenhuma ação era possível sem a ajuda de Deus: “Precisamos, todos os dias, de um momento de silêncio para receber Deus e a sua palavra”.

Padre Orivaldo Robles
Enviado por Padre Orivaldo Robles em 09/06/2012
Reeditado em 09/06/2012
Código do texto: T3714000