Coleção
Eu nunca gostei de estardalhaços. Protestos, multidões, demonstrações públicas de afeto, ou o que quer que seja. Prefiro coisas mais simples, menos chamativas e, ainda assim, repletas de significado. Prefiro olhares. Me dei conta disso observando um casal na rua um dia. A
A menina tinha os braços envoltos no pescoço do menino, e este a segurava pela cintura, os olhos fixos nos dela. E só. Assim eles permaneceram pelo tempo que os pude observar, talvez até mais. Doravante, passei a prestar maior atenção nos olhares à minha volta. Passei a colecioná-los. Olhares alegres, tristes, de canto, profundos. Olhares azuis, que tanto me encantam, e os castanhos, cheios de mistérios, mas que pouco me apetecem. Olhares que não são bem olhares. Olhares que são palavras e gestos. Um olhar bem interpretado vale mais que mil consolos; um olhar verdadeiro mostra mais que textos cheios de palavras vazias jamais conseguirão descrever. Mas olhares também mentem, e é preciso saber decifrá-los. Não ouso me chamar de especialista, mas aprendi a identificar olhares, me certificar de que estava guardando apenas os bons, pois só esses me interessam. Prefiro esse tipo de coleção. Prefiro olhares.