As meninas e Santo Antônio
1. As meninas do meu tempo de rapaz - e lá se vai mais de meio século - liam M.Delly.
Sobre os livros de M.Delly elas se debruçavam e sonhavam...
2. Certa ocasião, uma delas me perguntou: "Quem é essa tal de M.Delly?" Tirei da minha estante A casa dos rouxinóis e lhe dei de presente; lembrando-lhe, ao mesmo tempo, que M.Delly não era uma escritora.
3.E fui mais além: disse-lhe que M.Delly era o pseudônimo dos irmãos Frédéric Henri de la Rosiére (1870-1949) e Janne Marie Henriquette de la Rosiére (1875-1947), nascidos na França.
4. A menina ficou surpresa. Tranquilizei-a, assegurando-lhe que ela não era a primeira a não saber disso.
5. Percebi, porém, que, a rigor, para ela o mais importante não era saber quem era M.Delly. Interessava-lhe, muito mais, as histórias que M.Delly contava, responsáveis pela fantasia que, a partir delas, a fulana criava...
6. Não por acaso, alguém, certa feita afirmou, que os romances de M.Delly "possuíam um tom de encantamento, um clima de conto de fada". Perfeito.
7. Mas, para escrever esta crônica, procurei nas livrarias que frequento, pelo menos um livro de M.Delly. Perdi meu tempo. Ninguém - pasmem! - ninguém sabia quem era M.Delly.
8. Uma vendedora, muito educada, e me pedindo desculpas, não hesitou em confessar: "Moço, não conheço essa escritora."
9. Fui, então, aos sebos de Salvador, e, também nos sebos, não encontrei os livros de M.Delly!
10. Imediatamente liguei para uma querida coroa, que dividira comigo as delícias dos anos 1960.
11. E ela, prontamente, deixou na portaria do meu prédio Meu Vestido Cor do Céu, com um cartãozinho carinhoso: "Cuide bem dele; não deixe desaparecer este livro que alimentou meus sonhos de mulher jovem... Ele é seu."
12. Foi como se eu tivesse recebido uma dúzia de rosas vermelhas. Naquele instante, não nego, voltei a ser romântico... E, como disse o Cyro dos Anjos, "saí a procura de fugitivas imagens do passado".
13. Esse livro permanecerá comigo, naquela estante, até a Catarina, minha neta, arranjar o seu primeiro amor. É dela Meu Vestido Cor do Céu.
14. Agora, Santo Antônio, o santo casamenteiro. Neste exato momento, meninas e esperançosas balzaquianas estão aos seus pés, pedindo ao taumaturgo franciscano um bom marido ou um namorado com quem possam "ficar" ou casar sem preocupações nem sustos...
15. Há quem garanta que certos pedidos, face às "circunstâncias" que os cercam, o santo resistirá em atendê-los.
16. Vejam, por exemplo, o que a poetiza Mirian Warttusch diz no poema que transcrevo, ótimo para ser lido no Dia dos Namorados...
Santo Casamentero
Depois que eu fiz um pidido
Pro santo casamentero
Santo Antîo num gostô
- Meu amô num é sortero -
Sei que é pecado mortá
Gostá de hime casado
Santo Antônio só ajuda
Com paper legalizado
Casá de véu e grinarda
Na Igreja da Cunceição
Tem que ser home sortero
Pra tê sua aprovação
Num adianta ponhá o santo
Virado de pé pro alto
Pode insquecê desse amô
Ele desvira num salto.
Também num dianta fazê,
Aqueas reza e pidido
Tem que sê home sortero,
E muué de um só marido.
Simpatia tem de monte,
Mai num vai adianta não...
Tem que sê home sortero
Pra tê sua aprovação!
Ocê vai querê do santo
Que ele venha a concordá?
Roba o marido da otra?
Nenhum santo vai deixá.
Milagre anssim, desse jeito,
Nenum santo vai fazê.
Escóie um home sortero
Vai sê mió pra vancê.
Num existe coisa pió
Que vancê se apaixoná...
Gostá de home casado?
Vai sofrê e vai chorá.
Depois que ele consigui
Tudo aquilo que quizé,
Vai chutá a tua bunda,
Depois vorta pra muié!
17. Pessoalmente, acho que Santo Antônio não é tão intransigente, tão impiedoso, como admite Mirian Warttusch no seu poema.
18. Mas, pelo sim ou pelo não, para aquelas que se veem nos versos que acabo de transcrever deixo este conselho: não se aflijam; não desanimem, pois, de repente, Santo Antônio fará de conta que nada sabe...
1. As meninas do meu tempo de rapaz - e lá se vai mais de meio século - liam M.Delly.
Sobre os livros de M.Delly elas se debruçavam e sonhavam...
2. Certa ocasião, uma delas me perguntou: "Quem é essa tal de M.Delly?" Tirei da minha estante A casa dos rouxinóis e lhe dei de presente; lembrando-lhe, ao mesmo tempo, que M.Delly não era uma escritora.
3.E fui mais além: disse-lhe que M.Delly era o pseudônimo dos irmãos Frédéric Henri de la Rosiére (1870-1949) e Janne Marie Henriquette de la Rosiére (1875-1947), nascidos na França.
4. A menina ficou surpresa. Tranquilizei-a, assegurando-lhe que ela não era a primeira a não saber disso.
5. Percebi, porém, que, a rigor, para ela o mais importante não era saber quem era M.Delly. Interessava-lhe, muito mais, as histórias que M.Delly contava, responsáveis pela fantasia que, a partir delas, a fulana criava...
6. Não por acaso, alguém, certa feita afirmou, que os romances de M.Delly "possuíam um tom de encantamento, um clima de conto de fada". Perfeito.
7. Mas, para escrever esta crônica, procurei nas livrarias que frequento, pelo menos um livro de M.Delly. Perdi meu tempo. Ninguém - pasmem! - ninguém sabia quem era M.Delly.
8. Uma vendedora, muito educada, e me pedindo desculpas, não hesitou em confessar: "Moço, não conheço essa escritora."
9. Fui, então, aos sebos de Salvador, e, também nos sebos, não encontrei os livros de M.Delly!
10. Imediatamente liguei para uma querida coroa, que dividira comigo as delícias dos anos 1960.
11. E ela, prontamente, deixou na portaria do meu prédio Meu Vestido Cor do Céu, com um cartãozinho carinhoso: "Cuide bem dele; não deixe desaparecer este livro que alimentou meus sonhos de mulher jovem... Ele é seu."
12. Foi como se eu tivesse recebido uma dúzia de rosas vermelhas. Naquele instante, não nego, voltei a ser romântico... E, como disse o Cyro dos Anjos, "saí a procura de fugitivas imagens do passado".
13. Esse livro permanecerá comigo, naquela estante, até a Catarina, minha neta, arranjar o seu primeiro amor. É dela Meu Vestido Cor do Céu.
14. Agora, Santo Antônio, o santo casamenteiro. Neste exato momento, meninas e esperançosas balzaquianas estão aos seus pés, pedindo ao taumaturgo franciscano um bom marido ou um namorado com quem possam "ficar" ou casar sem preocupações nem sustos...
15. Há quem garanta que certos pedidos, face às "circunstâncias" que os cercam, o santo resistirá em atendê-los.
16. Vejam, por exemplo, o que a poetiza Mirian Warttusch diz no poema que transcrevo, ótimo para ser lido no Dia dos Namorados...
Santo Casamentero
Depois que eu fiz um pidido
Pro santo casamentero
Santo Antîo num gostô
- Meu amô num é sortero -
Sei que é pecado mortá
Gostá de hime casado
Santo Antônio só ajuda
Com paper legalizado
Casá de véu e grinarda
Na Igreja da Cunceição
Tem que ser home sortero
Pra tê sua aprovação
Num adianta ponhá o santo
Virado de pé pro alto
Pode insquecê desse amô
Ele desvira num salto.
Também num dianta fazê,
Aqueas reza e pidido
Tem que sê home sortero,
E muué de um só marido.
Simpatia tem de monte,
Mai num vai adianta não...
Tem que sê home sortero
Pra tê sua aprovação!
Ocê vai querê do santo
Que ele venha a concordá?
Roba o marido da otra?
Nenhum santo vai deixá.
Milagre anssim, desse jeito,
Nenum santo vai fazê.
Escóie um home sortero
Vai sê mió pra vancê.
Num existe coisa pió
Que vancê se apaixoná...
Gostá de home casado?
Vai sofrê e vai chorá.
Depois que ele consigui
Tudo aquilo que quizé,
Vai chutá a tua bunda,
Depois vorta pra muié!
17. Pessoalmente, acho que Santo Antônio não é tão intransigente, tão impiedoso, como admite Mirian Warttusch no seu poema.
18. Mas, pelo sim ou pelo não, para aquelas que se veem nos versos que acabo de transcrever deixo este conselho: não se aflijam; não desanimem, pois, de repente, Santo Antônio fará de conta que nada sabe...