A dor de uma saudade
Como navalha que corta a carne e faz sangrar, a saudade parece ter o mesmo efeito devastador: dilacera o coração, lágrimas brotam dos olhos feito oceano revolto, gritos silenciosos emergem das profundezas da alma.
Incapaz de se reagir a esse sentimento, debalde tenta-se de todas as formas a não sucumbirem devaneios insanos.
Por frações de segundo torna-se refém inerte, como mero coadjuvante, tentando-se entender o que não tem dimensão, nem explicação, capaz de mensurar este sentimento único.
Arraigada nas entranhas mais profundas do ser ela faz explodir soluços torturantes como se fora a própria morte que na calada da noite seiva almas inadvertidas e desatentas, subjugando-as, sem permitir-lhe sequer a possibilidade de defenderem. Não apieda-se de seus sofrimentos, visivelmente estampados em suas faces.
Senhora absoluta, não aceita despedidas, nem tolera adeus, não perdoa, nem releva; é implacável como as leis da natureza das quais somos irremediavelmente subordinados. Convergindo a saudade em algemas algozes das quais não consegue se desvencilhar, pois não há remédio, nem antídoto que possa aplacar a dor de uma saudade.