Um dia de palhaço
Hoje saí de casa entristecido. Na volta trilhei por entre os meus passos como se aquelas marcas deixadas para trás não fossem minhas. Os transeuntes não me perceberam. Caminhei errante e sem destino certo, mas via todos os rostos que em mim nada viam.
Mais tarde pensei que deveria gritar, depois repensei, resolvi que seria melhor tirar as roupas e andar nu pela calçada. Mas quando tirei a calça que vi que estava totalmente nu. Alguém que passava por ali naquele instante bradou:
__ Veste a cueca palhaço!
Pensei comigo mesmo: “pelo menos agora alguém notou minha presença”. Mas antes que outros gritassem e me chamassem outra vez de palhaço, vesti-me com extrema rapidez. Nunca imaginei que seria capaz de uma proeza como aquela.
A palavra palhaço me deu, naquele momento, uma nova ideia. Em vez de tirar a roupa, aproveitei a deixa e me vesti como um palhaço de verdade. Pintei o rosto, coloquei uma bola vermelha no nariz, arrumei uma calça xadrez, fui até a calçada outra vez, acenei para o primeiro táxi que passou e fui à luta. Fantasiado, mas fui.
O taxista riu da minha cara e em tom irônico perguntou:
__ Onde fica o circo?
__ Em qualquer esquina.
__ Como?
__ Já disse, em qualquer esquina.
Sem saber o que fazer, o homem deu duas voltas na primeira praça que encontrou, meteu o pé no freio bruscamente...
__ Chegamos!
Desci como se o endereço fosse exatamente aquele. Nunca havia me visto em tal situação, mas, pelo menos, desta vez não me chamaram de palhaço, pois estava vestido como um. Logo apareceram várias crianças, a maioria fazia careta. Algumas chegaram a imitar um velho palhaço. Andavam manquitolando em círculo, como se me convidassem para fazer parte de uma grande roda.
Sempre há, em qualquer lugar, crianças que são mais atiradas. Uma delas perguntou:
__ Você sabe fazer estrelinha?
Não, não sei.
Uma outra, mais gaiata, fez outra pergunta:
__ E contar piada, você sabe?
__ Não, não sei.
__ Então você não é um palhaço de verdade?!
__ Não, não sou.
__ Então o que você sabe fazer?
__ Sei cantar.
__ Ah, cantar eu também sei.
__ Sei jogar bola.
__ Ah, isso eu também sei.
Em poucos instantes não havia ali uma única criatura, todos haviam me dado as costas. Sem mais nem menos, caminhei alguns passos em direção ao outro lado da rua. O movimento no trânsito era intenso, os motoristas buzinaram com severidade, meus ouvidos recusaram os avisos - eu não queria ouvir! Foi aí que um cidadão, olhando em meus olhos, gritou para que todos ouvissem:
__ Sai daí otário!
Voltei para casa com a certeza de que não adiantou usar uma fantasia, ninguém me entendeu, nem mesmo quando saí vestido de palhaço. Diante do espelho, vi que minha maquiagem estava borrada e, ainda assim, aquele palhaço que eu achava que era, ria de mim sem o menor constrangimento.