Mais uma manhã

Os passos de Amanda são leves: ela caminha até a cozinha, com medo de quebrar o chão com tanto silêncio. Abre a janela. O ar frio de junho lhe corta o rosto, a fazendo tremer.

A água borbulhando denuncia sua presença: o café está quase pronto. Ao cair sob o pó aquele cheiro característico inunda a cozinha. Amanda fecha os olhos por um instante, querendo prolongar a sensação.

Joga seu sobretudo no sofá, agora, caminhando para seu quarto. Sua calcinha modela as formas de seu corpo junto com a camiseta básica branca. Coloca seu copo de café na mesa de cabeceira e acende um cigarro.

Mais passos silenciosos são denunciados: em frente à cama, ela, sim, Amanda, fotografa (com o cigarro queimando em seus lábios) uma linda mulher dormindo em meio aos lençóis desarrumados de uma noite anterior. Ela quer pegar seus melhores ângulos para assim descobrir sua real verdade. Poder entregar toda sua paixão ali, naquele pedaço de papel que um dia estará preso em sua parede.

Amanda senta-se na janela de seu quarto, sentindo mais ainda o frio lhe cortar os sentidos. Traga e bate as cinzas no ar, como se elas fossem uma espécie de verdade absoluta, como se elas fossem lhe trazer o que de mais sincero há em todos suas perguntas; as pessoas, os carros lá embaixo parecem se mover tão lentamente que a vida assim faria mais sentido. Mas ela percebe que é apenas mais um congestionamento cotidiano.

Após dar a última tragada, levanta-se e sorri, caminhando para onde seus desejos lhe levarem...

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 07/06/2012
Reeditado em 15/06/2013
Código do texto: T3710988
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