Filas que não andam
 

Impedir o curso normal da vida é burrice. (Filosofia matinal de domingo)


 
Uma das atitudes que mais me incomoda é ditar regras na vida dos outros.  Sei que pode parecer rabugice, mas tem coisa mais chata do que alguém no seu pé, o tempo todo, dizendo o que tem que fazer e fazer com que balance a cabeça igual vaquinha de presépio, dizer sim quando, por dentro, seu coração está berrando todos os tipos de “Não”? Uma pessoa que grita e quer impor suas verdades vai diminuindo a voz do outro e, com o tempo, apenas alguns murmúrios serão ouvidos, até que a voz se cale e a fera fique sozinha, gritando para o vento.

As pessoas estão impacientes, intolerantes e, a cada dia, mais fechadas. Muitos de nós passamos vinte e quatro horas sem falar uma única palavra. Ao final do dia, nossa mandíbula dói terrivelmente e as marcas dos dentes ficam em nossas línguas. Exagero? Claro que não.  Preferimos nos calar a ter que suportar certas pessoas. Antigamente havia uma expressão que era muito usada – “mudar de calçada” para não ter que encontrar-se com alguém que não desejamos ver de novo. Não falo de amores e sim de gente que faz mal ao outro. De outro lado, se demonstrarmos claramente o que sentimos, com certeza ganharemos um desafeto. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É quase sempre assim.

As pessoas costumam marcar as outras, como aqueles ferros quentes usados na numeração de gado. E sempre é do lado negativo; nunca o que é feito de bom. A tendência é que se fale do que fizemos de “errado” em algum momento de nossa vida. Eu me lembro de uma pessoa que usava uma expressão que era pior que uma surra de vara de bambu. – “Quando você vem com o milho eu já fiz a papa.” – Ouvia esta frase invariavelmente todos os dias. Eu ficava olhando para ela e pensava na pobreza de espírito. Nunca mais a vi e a ultima vez que tive notícias dela é que vive sozinha e não tem nem uma plantação de milho.

A tolerância é um dos piores inimigos dos humanos. Pela sua falta, mata-se com facilidade; basta ler as dezenas de noticias tristes das páginas policiais. Matar virou lugar comum. O respeito à vida já acabou faz tempo. Resta o lamento de mães, repetido todos os dias. O egoísmo é  outro inimigo, mas invariavelmente as pessoas preferem conviver com ele, porque é mais cômodo; ser altruísta é coisa do passado.

Se estou sendo dura nas minhas considerações de hoje, é porque preciso falar... Tudo isso foi por causa de uma seresta, que adoraria ter ido. Não pude. Não que não quisesse. É que tem gente que não sabe dividir o espaço com todos, achando que o lugar lhe pertence e onde ele estiver, terá sido sempre a pessoa mais importante.

Um sol lindo brilha e vou ouvir todas as serestas que tenho direito, no volume mais confortável aos meus ouvidos, porque mereço, porque sou uma pessoa linda por dentro, porque amo viver, porque sou alegre e colorida. As filas que não andam que fiquem estagnadas nos seus próprios pés.




Domingo de sol de junho,  2012
Imagem Bing
 
 
 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 03/06/2012
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