Viver Intensamente
Em silêncio, cansei de nada dizer. Tornei-me ouvinte, observadora e paciente. Um turbilhão por dentro, um rostinho sereno por fora. Notei que, dessa vez, ninguém notou. Ou se notou, simplesmente cansou de se/me perguntar. Não que houvesse algo que eu pudesse dizer, não. A esse ponto, muito aconteceu. Muito deixou de acontecer também. Sou turista em minha própria cidade. Sou ouvinte de meus próprios pensamentos. Observadora de minha própria confusão. Buscadora de mim.
Temo exagerar o que sinto, mas se sinto o peso em mim, não há como tentar desmentir. Principalmente com palavras que evitei desde não sei mais quando. Foi-se o tempo em que tudo podia ser dito. Essa história é nova e não pode ser história alguma.
Na realidade, apenas escrevo agora porque alguma parte de mim precisa disso. Não apenas da escrita em si, mas de dar sinal de que essa mania de precisar escrever ainda não me deixou. Sei que todas essas palavras soam confusas e vagas demais. Essa foi a intenção, desde o princípio, pois quando digo demais, arrependo-me. Mas depois de tentar nada dizer, creio que estou a ponto de explodir.
Agora leia bem: se você começa a sentir uma pontada de pena ou qualquer tipo de ansiedade pelo fim da história, o melhor é que feche essa página agora. Odiaria-me por decepcionar a você, leitor, então acredite em mim quando digo que, se o que você quer é o final feliz dessa história, o melhor que faz é desligar o computador e ir à prateleira pegar seu romance favorito, pois ele sim terá o que você procura. Terá sentido e terá um fim feliz como recompensa pelas aflições passageiras.
Infelizmente, com esse texto, nada tenho a oferecer. Provavelmente essas palavras já foram escritas em outro pedaço de papel. Talvez essa mesma situação já tenha sido vivenciada e compreendida. Mais provável ainda, é que tudo isso passe despercebido, porque estou a tentar fugir do que minha mente tem a falar, e são poucos os que podem ver isso. O aviso foi dado, então se apesar desses parágrafos você ainda tiver o espírito do leitor que nada sente senão uma pequena curiosidade pelo que vem a seguir, acredito que tudo bem prosseguirmos.
Nunca fui sábia quando o assunto são essas peças que a vida vive pregando na gente. Aliás, nunca soube disso até que caí pela segunda vez acreditando que tinha o controle. Deve ser coisa de mulher. Ou de mulher virginiana. Ou da mulher virginiana que sou. Por descuido, acabei descobrindo. Perdi um amanhecer porque era cedo demais e um pôr-do-sol porque era o certo a se fazer.
Dessa vez, é uma "primeira" dor diferente. Nem tanto uma dor, mais um desconforto porque foi e pensei que seria tudo, mas acabou não sendo. Mas se não falo com detalhes, não é porque não o quero. Simplesmente sei que com essa história nada posso.
Nos últimos dias mudei. Deixei de lado meu ursinho de pelúcia e comecei a usar uma almofada. Troquei leite com nescau por café. Experimentei novos tipos de música, fiz mais coisas sozinha. Endureci um pouco, acho que cresci. Deixei de lado o Twitter e passei a usar mais o Facebook.
Não que o antigo não me fizesse feliz. Assim como minha infância, esse tipo de coisa me trouxe aqui. Você deve estar se perguntando o por quê de eu tê-las deixado de lado e se a pergunta fosse feita há 5 minutos atrás, eu não saberia responder. Percebi que tenho tentado adiar algumas coisas para o futuro - ano que vem, talvez. Tenho saído mais, porque temo a despedida. Acima de tudo, temo que as coisas acabem antes de outras terem chegado ao fim.
Eu não queria sentir tanto, mas essas coisas acontecem. Muita coisa não devia ter acontecido, mas se não as tivesse feito, os fatos teriam sido muito diferentes e não é tudo que eu quero esquecer. Mais uma vez, não fui sábia mesmo sabendo que essa vida é coisa séria e vive nos pregando peças, mas no espaço em branco de uma folha onde eu tinha que escrever um objetivo para esse ano, acabei escrevendo "viver intensamente" e esse deve ser o preço. É incômodo que tudo tenha mudado sem que eu me desse conta, porque tinha esquecido como sou e como tenho mania de achar que tudo está sob controle quando nem mesmo sei como não me importar. Em silêncio, cansei de nada dizer, mas talvez seja melhor assim.