ENTRE O BOM SENSO E O CONTRASSENSO

Ao que me diz o assunto abuso sexual a menor, é impossível resumir meu pensamento a uma só frase. Assumo, então, o risco de ser chato ao prolongar-me. Há muitas variantes a implicá-lo. Os leigos dizem que é “falta de vergonha”; os juristas, que é um “desvio de conduta a que se impõe uma sanção penal”; os psicólogos investigam a “origem do desvio de caráter”; os psiquiatras afirmam ser uma disfunção psíquico-patológica e, aliados à psicologia, promovem a psicoterapia medicamentosa, etc.; as religiões se manifestam como sendo um “pecado mortal, imperdoável”, e nisso está o maior contrassenso aos olhos de Deus. Tudo, enfim, é parcialmente compreensível, dentro das limitações de quem julga essa lamentável fraqueza humana.

Eu, particularmente, vejo tudo isso como uma das mais terríveis anomalias na insanidade mental. Há muito que se questionar sobre isso e do que disso decorre. O que já era notório ampliou sua dimensão, levando o trágico ao apelativo, o que é privado a público, o que é vergonha social ao modismo. Desmorona-se toda a hierarquia de valores de que é objeto o corpo humano, sem qualquer zelo ao que nele habita.  Posto em evidência o abuso sexual, por questões menores homens e mulheres expõem intimidades, opção sexual, fetiches e taras aos olhos de todos, inclusive das crianças.

De repente uma “rainha” loura, no limiar dos 50, resolve tornar público algo tão íntimo, lá da infância, quando diz ter sido abusada. Se por um lado isso produziu algum efeito positivo, por outro desencadeou uma série de situações semelhantes, cujas vítimas, sem qualquer bom senso de apelar aos meios legais, dão-se a uma exposição inconsequente, tardia como a da Xuxa, e tendente mais a um oportunismo do que a uma solução. Isto é apenas uma das variantes. Sabe-se que, em se tratando de mídia, tudo é possível; bem como, nela visando projetar-se, há pessoas capazes de expor as mais secretas intimidades, banalizar princípios, descomprometer-se com a moral e com a ética, tudo a troco de uma ilusória notoriedade. Notoriedade de que já não precisa a "rainha", pois que há muito dela desfruta.

O caso é grave sim, e inspira cuidados especiais longe das câmeras. A comoção social clama por justiça. A justiça, enquanto aplicação da pena, é uma vingança. E não há vingança que não seja mesquinha, mesmo respaldada na lei. Justiça com as próprias mãos como a do coronel ao vaqueiro
*, é inadmissível no nosso ordenamento jurídico. Mas é a primeira manifestação humana instintiva. Castrar o pedófilo, subtrair-lhe os testículos seria, por fim, um crime tão hediondo quanto o estupro. A ciência e a Justiça que o digam.
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* Refere-se ao caso de que trata a crônica Histórias do Sertão, da professora e poeta Tânia Meneses, a quem, por questão de bom senso, pedi permissão para converter o que seria um longo comentário, o que agora classisifico como crônica.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 02/06/2012
Reeditado em 03/06/2012
Código do texto: T3702092
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