AMIZADE E AMOR.

Meu pai tinha quarenta e um anos quando nasci. Havia uma diferença forte de geração para o futuro. Íamos muito a Friburgo. Pela manhã, eu com uns dez anos, me acordava cedo para tomar café na rua, o hotel ainda não servia nessa hora o café da manhã. E ele caminhava comigo depois do café até a estação de trens, que adorava.

Certa feita, não me lembro a razão desse ensinamento, mas do conteúdo da conversa, ele me disse: nascemos e vemos sombras em volta de nosso berço, e vamos nos acostumando com essas sombras, elas estão sempre alí. Aos poucos vamos distinguindo suas fisionomias, ficam conhecidas, estão sempre a cuidar de nós. São nossos pais.

Com um pouco de entendimento nos agarramos a eles, amamos fortemente a eles. São nossa proteção e carinho. Crescemos e os amamos cada vez mais, até que conhecemos a primeira pessoa com quem dividimos esse amor, nos casamos. Surgem os filhos, o amor que era dos pais somente, foi dividido com quem amamos e casamos, e agora se divide mais ainda com os filhos. ESSE É O AMOR IMEDIATO, MAIS FORTE.

Os outros amores permanecem, mas o que se direciona aos filhos é gigantesco.Os amores mais remotos estão aliviados de intensidade pelos outros amores surgidos, mas não se perdem.

Meu pai era um intelectual de ponta. Lidava com emoções. Foi um dos maiores ou o maior advogado criminalista do Estado, quando na época os crimes eram quase todos passionais, puro sentimento. O júri era um teatro, e ele um de seus maiores artistas. Conhecia as emoções, por vasto estudo e vivência. Por fim integrou o Tribunal de Justiça na vaga preenchida por advogados de notável saber jurídico, como constitucional.

Nunca vi meu pai sem um livro nas mãos, deixou biblioteca com aproximados dez mil livros, que já destinei a estudiosos e à educação em geral. É preciso dividir.

Mas se diz que o que divide perde a força. Creio que sim.

Por que externo essa história? Sim a força se estiola com a divisão, mas nunca desaparece, como a amizade. Quem é limpo e franco não desaponta as amizades. É como a amizade virtual. Tenho de alguma forma colaborado com quem solicita, principalmente via email, e faria mais se presencial fosse a amizade.

Amizade presencial ou virtual é admirar pelo que se estabelece. Verdadeiro que não podemos conhecer àqueles que estão por trás de um computador, no silêncio de suas virtudes colhidas e sentidas ou de suas mentiras propaladas e acreditadas.

Confesso pretensiosamente, ninguém pode me esconder nada. No ato de escrever, cedo ou tarde as linhas da mitomania colidem, mostram o interior de quem as traça. Se tenho amigos virtuais, os amo, por admirá-los e respeitá-los no que fazem, e se houver divisão por outros que surjam, será por saber que têm os mesmos valores dos que já integram meu patromônio de amizades.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 02/06/2012
Reeditado em 02/06/2012
Código do texto: T3701273
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