ARRANCANDO A DOR

Se a vontade de chorar comprime por dentro, logo imagino uma corda ao meu redor, apertando cada vez mais. E essa mesma vontade me impulsiona a ficar só e colocar em ordem tudo que vem me angustiando e tirando o pouco da calma que aparento. Queria poder enfiar a mão boca adentro e arrancar à força tudo que me dói, tudo que me consome, na ânsia de que isso tudo cesse logo. Quero muito que cesse. Sinto-me mais fraca a cada pontada, a cada transbordamento. A verdade é que não quero que isso se prolongue, não vejo mais sentido em todo esse caos e não sei como reverter isso. Ou melhor, não vejo como isso seria possível. Não depende de mim. É sério, não depende de ninguém também. É um daqueles fatos não contingentes da vida, sabe como? Fatalidades. Pego a vontade de chorar e levo comigo para o chuveiro, onde posso misturar as lágrimas com a água corrente, onde ninguém vai me ouvir, onde sei que estou só comigo mesma. Eis o meu momento, só meu. Uma dor só minha. E olho a água escorrendo pelos azulejos e me encosto neles. E termino por escorrer junto.