*Emoções*_"Saudades"_

Emoções

Saudades

Sinto-me como um travo na garganta, ao falar de saudades. Um misto de sentimento de perda, um outro de ausência física, ou sei lá o que, que atordoa minhas realidades, num torpor de sensível melancolia. Saudades são compartimentos travados e inseridos em nossa memória que, por mais tempo que passemos, elas continuam vivas a beliscarem a realidade, na lembrança de nossos corações.São tão guardadas, alimentadas, afogadas, afagadas de, ora de amor, ora de simples recordação, ou de malfazejas épocas que, apesar de tudo e de todos, nos confundem a mente, fazendo-nos relembrar momentos, épocas de total sentimento. Saudade, coração de nossas emoções. Coração, curioso órgão de eivados modos de se contentar com achados das nossas memórias. Brindo essa estrutura como se fosse o sol a atrair o mundo do ser humano, com os planetas de todas as emoções a girarem ao seu redor, em sentido de rotação, convidando os satélites dos sentimentos mais puros, numa total translação a motivar as lembranças que, sensivelmente, nos acomete. E, assim, teimamos em trazer presentes os sentidos que abrangem e completam nosso mundo de realidades. Saudades, presença dos ausentes, licor que embriaga nossas recordações, em devaneios de singularidades, de emoções profundas e presentes.

Uma simples melodia, uma letra de uma canção, um sopro de perfume , a semelhança de um rosto desconhecido são o estopim para retroagirmos nossa memória e a localizarmos no passado de nossas recordações. Isso revela que, na força de um pensamento, mesmo fugaz, tudo se acentua e se eleva dos tempos vividos, sentidos, amados, desejados.

Quantas vezes me surpreendo, sentindo saudades de sentir saudades. Parece até um absurdo falar assim, mas as páginas do meu livro-vida retrocedem vertiginosamente à épocas, momentos que se alicerçaram na minha memória. São como vendaval a retroceder minhas fases, minhas caminhadas vividas com determinação de avivá-las e fazê-las emergir do meu passado, da minha vida. Lenços são o símbolo da saudade, pois eles acenam a pessoa, a distância, o passado, a viagem que nos afastou do momento, do pensamento, do coração. Há muitas formas de saudades, que mesmo sendo só simples lembranças, são variadas e díspares em suas consistências.

Há a saudade-carinho, que nos fez felizes e deixou pérolas de sorrisos, entremeadadas de mágicas lembranças, muito queridas e alegres em recordá-las. Deixa-nos com semblantes de amor.

Há a saudade-amizade, de pessoas, que por questão de destino, seguiram suas vidas, deixando um rastro de doçura em nossos corações.

Há a saudade-esperança, aquela que recordamos os tempos de vívidos anseios, de clarões de desejos na realização de alvos almejados.

Há a saudade-amorosa, que doi muito, na recordação de momentos de ternura, de carícias, de beijos, trocando juras de eternas paixões.Essa é perigosa, maltrata, corroe nossas entranhas num sentido de perda dolorosa, mas benfazejas em suas apresentações.

Há a saudade-doída, da nossa infância, dos tempos dos colinhos da mamãe, das papinhas, dos eternos beijinhos, dos contos da carochinha que inebriavam nossos sonhos infantís.

Há a saudade de tudo, do quase nada, que um dia aconteceu.

Lugares, pessoas, perfumes, melodias, sorrisos, semblantes passam céleres pela nossa memória, calcinado-a, marcando, elegendo as tantas que, num furacão de enlevos, nos faz seres humanos carentes, dementes, sofredores, alucinantes poços de saudade.

Há momentos, na minha vida, que me acometem sessões de saudades infindas. Tenho de tudo, da vida, das alegrias, das tristezas, dos sorrisos, das lágrimas, das melancolias que abrasam meu coração. Fico imaginando se já começaram a se instalar minhas despedidas, meus até breve, meus daqui a pouco eu retorno, meus não demoro, volto já...

Sem essas emoções que nos perpetuam com o passado, avaliamos, consideramos, valorizamos tudo que nosso destino nos reservou, fazendo-nos seres humanos em sua totalidade.

Muitas saudades eu desejo para todos. Sintam com felicidade, pois feliz é aquele que conseguiu registrar no seu coração, plêiades de astros de vidas passadas. vividas e encantadas...

Que Deus nos ampare nas horas de saudades doloridas, temidas, sentidas...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 05 de junho de 2004

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 23/07/2005
Código do texto: T37007