Automatização

Geração instantânea - leite instantâneo, café solúvel, um botão, um controle remoto, um movimento e clik! Liga, conecta, pluga, viaja instantânea e rapidamente, aliás, aceleradamente...

Se não funcionar nessa lógica, descarta, joga fora e substitui em tempo record... e o lixo tecnológico acumulando-se...

Ora, não tenho tempo para pensar nisso! O importante é acompanhar a evolução, o novo desing, o modelo de lançamento...

Sai da frente! Eu tenho pressa! Rápido!

Anda! Apura! Corre!

Geração do imediatismo, tudo para agora, tudo para ontem...

Internet, celular, iphone, ipode, chip, bateria, rede, modem, click... tudo aceleradamente... avião, helicóptero, monomotor, motocicletas, automóveis cada vez mais velozes, o que importa é a rapidez de deslocamento, inda que inúmeras vezes não se chegue ao destino desejado. O trânsito é apenas mais um espaço facilitador para a guerra urbana, não importa como, onde ou porquê, desde que seja rápido, veloz, aerodinâmico... nos relacionamentos afetivos muitas vezes isso se reproduz e, tenta-se incutir a mesma velocidade: olha, conhece, aproxima-se, toca, 'usufrui' enquanto está tudo ok, do contrário, ao surgirem as primeiras diferenças, descarta, abandona, joga fora, substitui...

Na sociedade pósmoderna, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum, relacionar-se com as pessoas da mesma forma que se relaciona com as coisas: rapidez, fluidez, superficialidade, desapego afetivo e, infelizmente, muitas vezes presencia-se situações em que as pessoas tornam-se descartáveis tanto quanto objetos... Não temos tempo para refletir sobre isso, quiçá sobre nós mesmos... estamos acelerados, tentamos ficar ligados em tudo e em todos, porém sem comprometimento, de maneira superficial e descomprometida... Nada nos escapa, tão logo recebe-se uma informação, raramente faz-se uma avaliação, reenvia-se como se o natural fosse repassar sempre, os emails não param, o celular também não... agimos impulsivamente, e, sem questionarmos vamos nos automatizando.

E, para tudo ser mais rápido, o ser humano foi criando motores, máquinas, robôs, enfim, a evolução tecnológica, irreversível e irremediável, ao trazer muitas e incontestáveis contribuições para a humanidade, (o que não se questiona aqui) trouxe também a robotização do ser humano e a celeridade das fases da vida humana, submetida ao descompassado ritmo das máquinas. Hoje os bebês, altamente estimulados, seguem nesse ritmo desde os primeiros anos. Cada vez mais agitados, vão mais cedo para a escola, sendo seguidamente, taxados de crianças hiperativas e tranquilizadas à força de 'Ritalina'. Os adultos por sua vez, ao se sentirem impotentes para impor o ritmo, absurdamente, acelerado e impossível, na resolução das questões de ordem prática da vida, onde as demandas pessoais conflituam com o ritmo e o tempo da vida em sociedade, muitos acabam tornando-se refém de suas excessivas e descabidas expectativas. Daí advém frustrações, depressão, dificuldade nos relacionamentos, mau humor, doenças físicas e emocionais... algumas armadilhas das quais o ser humano acaba refém, vítima de suas próprias invenções tecnológicas. Quem não assistiu "Tempos Modernos" de Charles Chaplim?

Há um sentimento de impotência e fracasso frente ao que vimos acontecer. Diante de nossos olhos, a inversão na lógica de convivência social, é como se o domínio do mundo estivesse sob o controle das máquinas. Se de um lado, arrefecemos ao nos darmos conta de que não estamos conseguindo humanizar a tecnologia, de outro sentimo-nos fracassados e oprimidos em meio a essa roda viva. A vida urbana, incrivelmente, desumanizada, quase nos convence do contrário, é como se víssemos um filme de ficção científica onde quem dita as regras e impõe o ritmo à vida humana, são as máquinas, ao invés daquele, ou daquela que lhes aciona os botões... Vivemos a ditadura da tecnologia. Até quando?...

Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 01/06/2012
Reeditado em 01/06/2012
Código do texto: T3699057
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