Para as aeromoças

      1.
As aeromoças - deixem que eu as chame assim e não comissárias de bordo; é mais delicado.  Costumo dizer que elas são a minha alegria e o meu tormento nos meus voos pelo mundo afora.
      2. São minha alegria quando as vejo sorridentes, no seu pra-lá-e-pra-cá, após a aeronave alcançar a altura programada.  No meu entender, sinal de que o avião voa bem.
      3. Dizem, porém, que a história não é bem assim: que elas são treinadas para sorrirem sempre, até nos momentos de voos difíceis, perigosos. Tudo para não espalhar o pânico entre os passageiros. Principalmente passageiros como eu que, com medo, só viajo com um Terço no pescoço e uma imagem de São Francisco de Assis no bolso.
     4. Tenho uma imagem do santo seráfico que já correu o mundo. Ela me acompanha, desde 1980, quando fiz o meu primeiro voo internacional. É uma pequena imagem de gesso; arranhada, já mostra sinais de cansaço por causa das repetidas viagens.
      5. Creio, entretanto, que graças a ela, meus voos, pelo menos até agora, foram quase (eu disse quse) sem aqueles "catabilhos" que apavoraram os passageiros, medrosos ou não. Mesmo asssim,  a cada leve sacolejo, a ela recorro; desmoralizando o Lexoton que tomara horas antes da decolagem.
      6. Disse por que as aeromoças são a minha alegria nos meus voos. Agora, por que elas são o meu tormento. São, quando as vejo sentadinhas,  de cinto afivelado, por solicitação do piloto comandante. É sinal de que tem turbulência pela frente.
     7. Viajava de São Luís para Salvador. Um voo noturno sem lua e sem estrelas. No trecho entre Fortaleza e o Recife, um sacolejo daqueles, quase derrubou meu avião. Vendo-me apavorado, uma bela aeromoça de mim se aproximou, e, com um carinho materno, tentou tranquilizar-me, dizendo: "Olha, não tenha medo. É uma pequena zona de instabilidade, passa rápido. Quer um copinho d´água?" Aceitei.
     8. Não fora, com certeza, a água que me fez tranquilo. Foi, sim, o sorriso encantador da linda aeromoça. Seu sorriso, foi o meu calmante...No seu crachá, estava escrito: Kárim.
      9. A profissão de aeromoça tem uma origem cheia de ternura e encanto. Vamos recordar, neste 31 de maio, o Dia da Aeromoça.
Em 1930, chegou aos escritórios da Boeing Air Transport uma sugestão de uma mulher apaixonada pela aviação. Quis ser pilota, mas não a permitiram. Coisas da época.  
Ellen Chuch sugeria à poderosa empresa que pusesse a bordo de seus aviões enfermeiras como ela. A sugestão foi aceita. As primeiras aeromoças eram, portanto, enfermeiras, colocadas nas aeronaves para cuidar do bem-estar dos passageiros. 
     10. Pousei em Salvador, era quase meia-noite. Despedi-me da bela Kárim, levando comigo seu doce sorriso; sabendo, porém, que, como acontece com as aeromoças, só por acaso, a terei em outros voos. Esquecê-la, vai ser difícil. Ela estará nas outras aeromoças que ainda hei de encontrar nos céus do mundo.
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 01/06/2012
Reeditado em 11/11/2017
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