Chutou pra fora, sai!

Outro dia, o Joseph Blatter defendeu o fim da decisão por pênaltis no futebol. Diz ele que o futebol é um esporte coletivo - deduzo então que nos pênaltis a decisão é individual. E uma decisão assim tira a essência do futebol. Melhor acabar com isso, portanto. Seguindo por esse raciocínio, seria de bom alvitre acabarmos também com o gol contra, ou com o frango do goleiro - erros bastante individuais. Na verdade, seria conveniente inclusive acabar com o gol de placa, nascido da habilidade individual de um único jogador.

Seria o caso de estabelecer um número mínimo de jogadores para participar de cada jogada. Pelo menos cinco jogadores do mesmo time deveriam tocar na bola depois do meio campo para só então alguém chutar a gol - e chutes normais, nada de trivelas ou outras artimanhas de gente exibicionista. Esporte coletivo. Uma arrancada como a do Diego Souza contra o Corinthians seria proibida. Individual demais. Se erra - e ele errou - vira culpado individualmente. Não foi o Vasco quem errou. Foi ele. E se acerta, o culpado isolado é quem perdeu a bola. Para evitar esse tipo de coisa, a regra seria clara: tentou jogada individual, é falta e cartão amarelo.

Em todo caso, já que se começou a questionar a decisão por pênaltis, seria interessante pensarmos desde já em novas formas para desempatar uma partida. Por exemplo, fazer igual ao basquete: dá-lhe prorrogação atrás de prorrogação. Se preciso for que os jogadores fiquem madrugada adentro tentando terminar na frente uma prorrogação, que assim seja. Morrerão todos de cansaço, mas morrerão coletivamente. O simples sorteio tira a essência do futebol, já que premia o sortudo, e não o competente.

Mas tenho para mim que o melhor critério de desempate seria realmente aquele praticado nas quadras de futsal da minha escola durante a infância. Como havia sempre mais de dois times nas aulas de Educação Física, e como, depois de passado certo tempo, o jogo continuava sem vencedor, alguém berrava lá do banco de reservas aquelas terríveis palavras, para nós extremamente justas: CHUTOU PRA FORA, SAI!

Palavras não descrevem a mudança que se passava então no comportamento dos jogadores. De repente, ninguém mais queria chutar ao gol. Ninguém mais saia correndo com a bola, e ninguém tentava driblar o adversário. Ninguém tentava sequer tirar a bola dele. Todo cuidado era pouco para que a bola não batesse na nossa perna e saísse da quadra. Jogadores chegam a caminhar com a bola, acompanhados do seu marcador. Os passes só acontecem se a pessoa estiver muito próxima e não houver nenhuma possibilidade de errar. Eis aí o futebol dependendo mais do que nunca das estratégias.

Quem está com a bola poderia muito bem enfiar uma bicuda no primeiro adversário que encontrar pela frente, na esperança de que a bola bata nele e em seguida saia pela lateral. Isso será a vitória total, o direito de permanecer em quadra. Mas as coisas não são tão simples assim. Quem garante que o adversário não vai se desviar do chute, fazendo a bola correr direto pro fundo da quadra? Não, muita calma nessa hora. É preciso pensar e aguardar o momento certo, o gesto certo. São momentos de tensão. E nesse lenga lenga os dois times podem gastar minutos, para desespero do time que aguarda ansioso pela sua entrada.

Agora imagine esse emocionante método aplicado em jogos oficiais. Na Copa do Mundo de 2014, por exemplo. Brasil e Argentina na final. Zero a zero no tempo normal e o jogo vai então pro Chutou pra Fora Sai. É em um momento como esse que poderemos realmente comparar Messi e Neymar. Pra driblar e fazer gols bonitos, sempre vai existir alguém. Eu quero ver quem é bom mesmo mantendo a bola dentro de campo e levando o adversário a tocar nela antes de sair. Ninguém mais treinará pênaltis. Treinarão equilíbrio e domínio de bola. O que fará bem inclusive ao tempo normal da partida.

E aproveitando, quero sugerir ainda ao presidente da Fifa a exclusão dos gandulas, que volta e meia se envolvem em confusão, seja atrasando ou acelerando o andamento das partidas. Que se estabeleça a mesma regra já praticada com muita eficiência em todos os campinhos de futebol pelo Brasil afora: QUEM CHUTA BUSCA. Sem sombra de dúvida isso contribuirá para que nossos jogadores pensem duas vezes antes de chutar a gol, e consequentemente se esforcem para melhorar a pontaria.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 31/05/2012
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