O golpe
Para cada tipo de golpe há um perfil de vítima. Isto poderia ser verdade para o estudo da vitimologia. Com tantos golpistas a solta, cedo ou tarde ouviremos os mais estranhos casos de golpe ou tentativa de.
Sábado passado, um dia atípico para mim, depois da demolição do forro do teto da cozinha e do banheiro, paguei o empreiteiro, consegui alguém para recolher a caliça e saí para almoçar, pois com a bagunça toda não era possível preparar nenhuma refeição. Tocou o celular. A primeira vez eu estava no elevador e a ligação caiu. Ao sair do elevador tocou novamente. De tanto reclamarem que eu não atendia o celular, optei pela campainha mais estridente. Assim sou obrigada a atender de imediato.
- Olá! Qual é a música que você quer ouvir aqui na rádio?
- Mas eu não liguei para nenhuma rádio.
- Aqui está o seu número. Estamos retornando sua ligação para que você possa escolher a música. O suposto radialista insistiu.
- Ah, aqui está quem ligou. Peço desculpas. Não foi você. Alguém que está lhe dedicando uma música. Pode escolher.
Para me livrar do elemento (assim dizem nas delegacias) escolhi: - Qualquer uma da Marisa Monte.
Perguntou-me se conhecia um André? Mesmo conhecendo três Andrés, respondi que não. O radialista insistiu. - E Mário?
Ora, quem não conhece André e Mário? Em suma, o Mário, qualquer Mário, queria me dedicar uma música.
- Muito bem. Como é o seu nome? Disse-lhe que meu nome era Mirian.
- E o sobrenome? Soares. Inventei. Aí o elemento perguntou onde eu morava. - Estou vendo aqui. É no morro tal?
Novamente, para me livrar do elemento, confirmei e desliguei.
Até aí o telefone tocara por três vezes. Tocou insistentemente pela quarta vez... Já nem me importava com a campainha estridente. Por fim, atendi e informei. - Olha aqui. Deve ter sido engano, pois não liguei para ninguém!
- Ah, peço desculpas. Vou lhe explicar o que aconteceu...
A essa altura, furiosa com a tentativa de golpe, berrei:
- NÃO VAI EXPLICAR NADA E NÃO LIGUE MAIS PARA MIM!
Fim da tentativa frustrada de golpe, o que me restava? Almoçar e espalhar a nova modalidade de tentativa de extorsão, a começar pelo restaurante.
Mas não é que hoje de manhã o golpista se revelou? Envergonhado pediu desculpas para mim o demolidor do forro do teto quando veio entregar uma prateleira que encomendei da sua loja. Quis passar um trote para “Mirian”, a namorada do seu filho, e sem querer confundiu os nomes.
Desculpas aceitas. Até porque já ocorreram outras trocas com Mirian e Meriam. Expliquei-lhe que por pouco o seu número de celular não fora parar na delegacia. Depois pensei em que perfil de vítima eu me enquadraria... Quem quer ganho fácil? Não creio. Quem ainda crê em romantismo? Espero não saber.
Para cada tipo de golpe há um perfil de vítima. Isto poderia ser verdade para o estudo da vitimologia. Com tantos golpistas a solta, cedo ou tarde ouviremos os mais estranhos casos de golpe ou tentativa de.
Sábado passado, um dia atípico para mim, depois da demolição do forro do teto da cozinha e do banheiro, paguei o empreiteiro, consegui alguém para recolher a caliça e saí para almoçar, pois com a bagunça toda não era possível preparar nenhuma refeição. Tocou o celular. A primeira vez eu estava no elevador e a ligação caiu. Ao sair do elevador tocou novamente. De tanto reclamarem que eu não atendia o celular, optei pela campainha mais estridente. Assim sou obrigada a atender de imediato.
- Olá! Qual é a música que você quer ouvir aqui na rádio?
- Mas eu não liguei para nenhuma rádio.
- Aqui está o seu número. Estamos retornando sua ligação para que você possa escolher a música. O suposto radialista insistiu.
- Ah, aqui está quem ligou. Peço desculpas. Não foi você. Alguém que está lhe dedicando uma música. Pode escolher.
Para me livrar do elemento (assim dizem nas delegacias) escolhi: - Qualquer uma da Marisa Monte.
Perguntou-me se conhecia um André? Mesmo conhecendo três Andrés, respondi que não. O radialista insistiu. - E Mário?
Ora, quem não conhece André e Mário? Em suma, o Mário, qualquer Mário, queria me dedicar uma música.
- Muito bem. Como é o seu nome? Disse-lhe que meu nome era Mirian.
- E o sobrenome? Soares. Inventei. Aí o elemento perguntou onde eu morava. - Estou vendo aqui. É no morro tal?
Novamente, para me livrar do elemento, confirmei e desliguei.
Até aí o telefone tocara por três vezes. Tocou insistentemente pela quarta vez... Já nem me importava com a campainha estridente. Por fim, atendi e informei. - Olha aqui. Deve ter sido engano, pois não liguei para ninguém!
- Ah, peço desculpas. Vou lhe explicar o que aconteceu...
A essa altura, furiosa com a tentativa de golpe, berrei:
- NÃO VAI EXPLICAR NADA E NÃO LIGUE MAIS PARA MIM!
Fim da tentativa frustrada de golpe, o que me restava? Almoçar e espalhar a nova modalidade de tentativa de extorsão, a começar pelo restaurante.
Mas não é que hoje de manhã o golpista se revelou? Envergonhado pediu desculpas para mim o demolidor do forro do teto quando veio entregar uma prateleira que encomendei da sua loja. Quis passar um trote para “Mirian”, a namorada do seu filho, e sem querer confundiu os nomes.
Desculpas aceitas. Até porque já ocorreram outras trocas com Mirian e Meriam. Expliquei-lhe que por pouco o seu número de celular não fora parar na delegacia. Depois pensei em que perfil de vítima eu me enquadraria... Quem quer ganho fácil? Não creio. Quem ainda crê em romantismo? Espero não saber.