NA ESCURIDÃO DA NOITE

Já é alta hora. Os ponteiros do relógio avançam inexoráveis pela noite afora como como que apontar que é o momento das trevas cobrirem tudo. O frio, o escuro, o silêncio, tudo faz o medo ficar ainda maior que normalmente é. Sozinho, a cama parece estar imersa em uma grande geleira, e em cada canto sombras escuras invadem a noite. E os ponteiros continuam a avançar. As horas passam e a noite vai se fechando cada vez mais. Lá fora apenas alguns carros passam pela rua como fantasmas arrastando as suas correntes em casas assombradas. O barulho mesmo que conhecido de dia, causa temor a noite. E nesse momento pensamentos entram em colisão. Pensamentos ruins que atravessam o consciente e emergem em sensações físicas de tremor, arrepio, dores. Aquelas mesmas dores que invadem a alma e faz sangrar por dentro como uma grande torrente vermelha e caudalosa. Pensamentos mórbidos. Pensamentos que conduzem a amargura e a tristeza. São eles as companhias noturnas que acompanham o andar do relógio e o bater contínuo dos ponteiros. Mas eles não param. E derepente um raio amarelado começa a penetrar pela fresta da janela que mesmo fechada ainda permite que ele passa. Um raio quente, brilhante, bem o oposto daquelas trevas que até momentos antes invadiam todo o quarto. Um raio que vai abrindo espaços não apenas dentro do cômodo antes frio e negro, mas também dentro do coração e da alma. Um raio que atravessa a alma, e vai soprando de dentro dela aqueles pensamentos que rondaram durante toda a noite. Esse mesmo raio que tem o poder de iluminar e dissipar as trevas. Um raio cheio de calor que extingue o arrepio e o tremor. Um raio, que inicialmente tímido vai invadindo tudo a ponto de iluminar o quarto todo, e assim vai mostrando que tudo está para começar novamente. Apenas um raio, que diz para o corpo, a mente e a alma: hora de levantar porque a vida está por se iniciar de novo.