Papel Fenasco
De onde vêm esses suspiros cada vez mais longos, como se eu já não soubesse. Você voltou ao comando novamente não é mesmo? Quebrado, cheio de cicatriz, sei... Só foi eu piscar os olhos e já estava cego novamente. Só enxergar o rosto dela na minha frente não conta, faço isso até de olhos fechados, mas também... Aquele sorriso... (suspiro)...
Estava demorando em aparecer esta maldita ansiedade, que deixa meu peito pesado. Em quem será que ela está pensando, será que estás pensando em mim, bom, eu não paro de pensar nela.
Acho que vai chover.
Preciso de outra caneta, essa aqui já está falhando, também, depois de escrever o nome dela mais de cem vezes. Até que esse barquinho de papel ficou legal, acho que estou inspirado.
Quase uma da manhã e eu aqui desenhando o nome dela no ar, tenho que ir dormir para não ficar com sono na prova de Química...
Espera um pouco...
Eu acabei de chegar da faculdade, e amanhã cedo tenho que ir trabalhar, tenho 21 anos, mas e esse barquinho de papel?
Tem alguma coisa errada, onde está aquele meu pôster de rock que ficava bem ali? Onde hoje fica a foto dela. Essas paredes mudaram agora elas têm cores, e são quentes, onde está a palavra Solidão que esculpi com meus próprios socos, me lembro como se fosse ontem mesmo que eu dei o ultimo soco, naquela tarde vazia de outubro. Lembro-me como se fosse ontem que isso já faz quase um ano...
Achei aquela foto antiga do colegial! No pátio da escola, estou bem ali no canto fazendo um barquinho de papel, mas não me lembro dessa foto ser em preto e branco, esse dia parece tão frio, mesmo eu estando de regata nessa foto... Já não tenho mais aquelas cicatrizes, mas como? Se não me lembro de quando elas foram embora... Mas essa em forma de coração, lembro-me bem que você a fez semana passada.
Nunca percebi que eu tinha tantas fotos antigas, achei!!! Meu moicano, bons tempos, espera um pouco, bons tempos? Já faz tanto tempo que nem me lembro de quanto tempo eu levava para deixa-lo em pé...
E essa camiseta! Sem duvida alguma a minha preferida “Diga a todos os meus amigos que eu estou morto”. Faz tanto tempo que não uso ela, acho que nem serve mais, claro que serve, não cresci... Agora que eu me lembro, já não tenho mais ela... Não a tenho há muito tempo...
O mais incrível é que aquele barquinho de papel é igual a esse que acabei de fazer, só que nele não tinha nome algum escrito, já nesse escrevi tanto o seu nome que acho que nem lembro mais o meu... Nem percebi que já lembro mais de você do que de mim...
Paula Fonseca