As mulheres que participam das redes sociais são softwares livres?

Pensando em minhas amigas das redes sociais e em centenas de mulheres que me cercam, me vem uma série de sentimentos, em cascata, na tentativa de compreender as mulheres, ou pelo menos as diferenças que nos distinguem. Diriam alguns que me conhecem, que falo de cadeira, visto que moro com duas mulheres (aqui vale esclarecer, uma esposa e uma filha). Na minha família pregressa, o grupo feminino compunha-se de três mulheres, contando com minha mãe. No colégio, entre amigos homens, havia sempre uma amiga confidente, a qual talvez tivesse a faculdade de olhar horizontes diferentes, acenando para assuntos literários, culturais e políticos, coisa que não se admitia com meninos, entre o jogo de bola e a autoafirmação da adolescência. Na Universidade, nos cursos que ingressei, havia poucos homens. Em Letras, éramos ao cabo do curso, apenas três homens. Na biblioteconomia, bem nesta área, além de haver muitas mulheres na sala de aula, há a predominância do sexo feminino em todos os setores, na biblioteca. Hoje, as coisas mudaram um pouco, e como no grupo de monges da idade média, os bibliotecários timidamente vão assumindo seus cargos. Ao ingressar, algum tempo atrás, o grupo era formado tipicamente por mulheres. Quer dizer, que me acostumei com o comportamento das mulheres. Tenho, inclusive, a pretensão de que as conheço, embora não consiga entender na maioria das vezes, as suas atitudes, cujos meandros tornam as situações um pouco confusas. Às vezes, desconfio que percebo suas aspirações mais profundas. Na verdade, sei que sou completamente ignorante aos seus verdadeiros interesses. Por certo, sou enrolado por elas, porque eu e qualquer homem, desculpem a generalização, não consegue atingir o entendimento de uma mulher integralmente. Talvez somente o Ronnie Von, com a sua elegância e desprendimento quase materno tenha esta faculdade. As mulheres são capazes de nos surpreender a cada momento. Isso não é mistério nenhum, nem para elas. Ao contrário, conhecem a tudo e a todos. São afetuosas, corajosas, inteligentes, religiosas, bregas, alegres, amantes, amigas nas redes sociais, e ao mesmo tempo são tudo isso na vida real. Não há nenhum descalabro nisso, o estranho seria que fossem diferentes. Mas não são. Enquanto nós homens, nos policiamos para declarar qualquer coisa (a não ser os insensatos ou deslumbrados), elas abrem o verbo a qualquer hora e se posicionam abertamente, mesmo que derramem lágrimas, se mostrem fragilizadas, deem risadas online ou se recolham ao recato absoluto. São elas que participam intensamente do nosso dia a dia. Tem uma capacidade impar para odiar e outra para amar indistintamente. Enquanto que nós nos amparamos em verdades solidificadas, alicerçadas em patamares bem sucedidos, nos vestimos de armaduras, elas se mostram na sua mais primitiva alegria ou mais genuína tristeza. Por outro lado, nos bandeamos para a vida real, de um modo resguardado, austero, tímido. E se o fazemos com alguma singularidade que demonstre fugaz afetuosidade ou alegria, ainda nos perguntamos, quem é aquela pessoa mesmo? É meu amigo na rede? É minha parceira no projeto online que discutimos juntos? As mulheres não, ao contrário. Conhecem todos os amigos das redes sociais, dos amigos dos amigos e dos que ainda pretendem se cadastrar! Além do mais, se encontram no dia seguinte, falam de mil coisas ao mesmo tempo, vão da pequena tragédia da esquina de casa, ao embate com o marido preguiçoso transitando pela festa absurda do chá de panela da amiga ao trabalho confinado na biblioteca. Nós nos enredamos no primeiro encontro dos amigos virtuais. Nem sabemos quem são, na verdade e se o sabemos, conhecemos um personagem que nos defrontamos na rede, dissociado da face real que está a nossa frente. Trocamos nomes, esquecemos fisionomias e lembramos fatos de outrora que nem são adequados, na maioria das vezes, no momento daquele encontro banal. E para completar, ainda somos desligados no dia a dia, não sabemos fazer duas coisas ao mesmo tempo, somos ansiosos e atemporais. Enquanto as mulheres se alinham na fila correta para o lugar adequado nas palestras, por exemplo, nós ainda estamos nos perguntando quem se apresenta lá. É, elas tem tino apurado nos relacionamentos sociais, sabem se esgueirar com agilidade e elegância entre as diversidades de comportamento. Uma façanha pra nós. Uma qualidade habitual para elas. Nós, somos mais duros e restritos. Talvez amemos tanto quanto elas, talvez sejamos tão afoitos em sermos felizes quanto elas, mas sem dúvida, elas tem a particularidade de se dividir em várias facetas, enquanto nos perdemos em maneira restrita de encarar as situações. Cabe aqui uma piada, que adaptei livremente, de acordo com o contexto que diz principalmente do universo masculino. “Contam que num velório de certo internauta, havia meia dúzia de amigos. Conversavam entre si, ensimesmados, até que um deles perguntou à esposa: mas ele não tinha tantos amigos, onde anda este pessoal? Se não me engano, tinha mais do que 500 amigos no facebook! Ela respondeu, resignada: São todos virtuais.” Por esta e por outras, as mulheres possuem a capacidade de armazenar a qualidade nos seus conteúdos online. São softwares de imensa segurança em hardwares precisos. Por certo, não são os proprietários, feitos numa forma certinha, condicionada, limitada, restrita a determinados aplicativos. Devem ser software livres, de conteúdo aberto, sem modelo padrão, capazes de se metamorfosear e buscar a forma de serem felizes.

Gilson Borges Corrêa
Enviado por Gilson Borges Corrêa em 28/05/2012
Reeditado em 30/05/2012
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