Tragos & Estragos
Impecavelmente vestido e de um educação ímpar de cara, no primeiro contato Carlos revelava-se e
xtremamente polido.
De origem interiorana veio ainda garoto para a cidade grande.
Decidira na adolescência trilhar o caminho das lides jurídicas.
Fez descaso dos inúmeros convites recebidos na juventude para atuar como modelo dado ao porte físico
e o perfil grego.
- Entendia como brincadeira – de sério mesmo a dedicação aos estudos, o amor pela família e a solidariedade para com os amigos.
Um dos primeiros de sua turma.
Educado em uma família religiosa fora apresentado para
o álcool à época da universidade.
De início bebia nos encontros com os amigos nos
finais de semana.
Pouco tempo transcorreu para fazer do vício sua opção diária no final de cada expediente.
De nada adiantaram os conselhos.
A bebida passou a ser o centro de sua vida.
Aos vinte e seis anos a primeira internação.
Mal acabara a universidade.
No contato pessoal mascarava a dependência através
da educação.
Tornou-se refém, dependente, decadente...
Apaixonou-se.
A família esperançosa buscou o conforto através de um possível relacionamento sério.
Em menos de um ano estava casado, à época aos vinte e nove anos contabiliza o histórico de cinco internações
para tentar se livrar do vício.
Quando sóbrio, ao ser indagadosobre a dependência limitava-se a sorrir sem jamais perder a postura
dizia - vou parar....
Não foi capaz de cumprir.
A carreira profissional crescente, o casamento, o nascimento do primeiro filho, tudo acontecendo rapidamente e Carlos fora dos trilhos.
Tornou-se pai alguns anos mais tarde, quando o álcool
já se tornara parte do café da manhã e o trabalho em declínio.
Impecavelmente vestido, educado e polido, vez ou outra no horário do almoço era visto de mão dadas com o filho que devia contar com seus três anos de idade.
Quando abordado nos assuntos amenos revelava a paixão pela canção italiana, o gosto por se vestir bem , a alegria de ser pai, oamor pela esposa.
A carreira profissional no entanto tilhou as vias do fracasso.
Perdeu os amigos, os clientes, a credibilidade.
Jamais perdeu a educação e a humildade.
Quando as pessoas se dirigiam de forma matreira sobre
o vício respondia com um sorriso, aquele que somente
as almas iluminadas podem compartilhar.
O fim do casamento se deu aos nove anos de vida em comum.
A mulher não suportou conviver com a bebida e o declínio.
Cansou de internar, aconselhar, proteger, de tentar
mostrar o caminho correto.
Perdeu a aposta!
Sem avisar deixou a casa – o único bem que possuíam levando o maior tesouro de Carlos – o filho!
Não raras vezes derramou lágrimas ao falar dopequeno,
da esposa que perdera devido às circunstâncias, do esvaziamento do trabalho, da vida torta banhada no álcool.
Fechou o escritório, os clientes sumiram.
Passou a fazer pequenos trabalhos para os amigos.
Um deles tentou ajudar Carlos de tal forma que o
levou para casa, cuidou por longos três meses, mobilizou
a classe para colaborar, fez contato com a família no interior do Estado, levou-o para uma igreja.
Carlos estava debilitado, o álcool havia feito estragos no intelecto.
Estava lento, disperso, vago, vazio...
Nesta época o filho com dez anos de idade e Carlos há
mais de cinco sem rumo.
Ficara na casa, seu único patrimônio vivendo de
trabalhos esporádicos, solidariedade, apoio dos colegas
de profissão.
Apresentava-se meio desalinhado com roupas surradas.
O sorriso, porém sempre o mesmo, a educação para
com o próximo perfeita.
Quando amparado pelo amigo estava num estado deplorável de tal monta que passou mais de três
meses hospitalizado.
OA recber a alta hospitalar aderiu à uma igreja evangélica, prometera que largara o vício, que viveria de forma
diferente.
Lamentava a ausência do filho e perda do casamento
por conta da bebida.
Prestativo o amigo após vê-lo aparentemente curado,
reuniu a classe, obteve recursos a fim de enviar Carlos
para o interior de São Paulo com os familiares.
Foram seis meses de abstinência.
Ao retornar para o trabalho novamente a queda.
Ainda assim atuava em trabalhos para alguns
colegas de profissão.
Início do ano em curso.
Carlos bebia compulsivamente.
Entrou em coma.
Foram mais de três meses hospitalizado.
Incapaz de vencer o vício entregou-se emocionalmente.
Perda gradativa das funções vitais.
O coma, a ausência, a perda de peso, a entrega, a morte.
Faleceu prematuramente antes de completar cinco
décadas de vida.
Fica a imagem da pessoa extremamente gentil,
educada, respeitosa, amiga.
Fica a tristeza pela derrota.
Fica a sensação de impotência diante da vitória do vício,
da doença, que ainda hoje erroneamente é vista por muitos como falta de vergonha do dependente, fica o mundo mais carente diante da perda de uma árvore que tantos frutos poderia render, fica o vazio da saudade, do sorriso, da esperança que se foi, da vida precocemente tragada nos goles do falso prazer.
(Ana Stoppa)
Fica a nos corações a melodia de uma de suas canções preferidas Legata a un granello di sabbia.
http://www.youtube.com/watch?v=1QebKMqdElg
Vez ou outra quando nos encontrávamos por força do trabalho dizia com o mesmo sorriso vindo em minha direção com os braços acolhedores.....Ai vem a Dra A.... que canta italiano.... canta um pedacinho....
Que Deus o tenha querido amigo!
( baseado em fatos reais, preservada a identidade em respeito ao grande ser humano que deixou o mundo
terreno estes dias e a como legado o sorriso, a
amabilidade, a gentileza, a educaçáo e a
humildade, e porque nào dizer do doloroso desfecho
por força da doença).
(Ana Stoppa)
.
Impecavelmente vestido e de um educação ímpar de cara, no primeiro contato Carlos revelava-se e
xtremamente polido.
De origem interiorana veio ainda garoto para a cidade grande.
Decidira na adolescência trilhar o caminho das lides jurídicas.
Fez descaso dos inúmeros convites recebidos na juventude para atuar como modelo dado ao porte físico
e o perfil grego.
- Entendia como brincadeira – de sério mesmo a dedicação aos estudos, o amor pela família e a solidariedade para com os amigos.
Um dos primeiros de sua turma.
Educado em uma família religiosa fora apresentado para
o álcool à época da universidade.
De início bebia nos encontros com os amigos nos
finais de semana.
Pouco tempo transcorreu para fazer do vício sua opção diária no final de cada expediente.
De nada adiantaram os conselhos.
A bebida passou a ser o centro de sua vida.
Aos vinte e seis anos a primeira internação.
Mal acabara a universidade.
No contato pessoal mascarava a dependência através
da educação.
Tornou-se refém, dependente, decadente...
Apaixonou-se.
A família esperançosa buscou o conforto através de um possível relacionamento sério.
Em menos de um ano estava casado, à época aos vinte e nove anos contabiliza o histórico de cinco internações
para tentar se livrar do vício.
Quando sóbrio, ao ser indagadosobre a dependência limitava-se a sorrir sem jamais perder a postura
dizia - vou parar....
Não foi capaz de cumprir.
A carreira profissional crescente, o casamento, o nascimento do primeiro filho, tudo acontecendo rapidamente e Carlos fora dos trilhos.
Tornou-se pai alguns anos mais tarde, quando o álcool
já se tornara parte do café da manhã e o trabalho em declínio.
Impecavelmente vestido, educado e polido, vez ou outra no horário do almoço era visto de mão dadas com o filho que devia contar com seus três anos de idade.
Quando abordado nos assuntos amenos revelava a paixão pela canção italiana, o gosto por se vestir bem , a alegria de ser pai, oamor pela esposa.
A carreira profissional no entanto tilhou as vias do fracasso.
Perdeu os amigos, os clientes, a credibilidade.
Jamais perdeu a educação e a humildade.
Quando as pessoas se dirigiam de forma matreira sobre
o vício respondia com um sorriso, aquele que somente
as almas iluminadas podem compartilhar.
O fim do casamento se deu aos nove anos de vida em comum.
A mulher não suportou conviver com a bebida e o declínio.
Cansou de internar, aconselhar, proteger, de tentar
mostrar o caminho correto.
Perdeu a aposta!
Sem avisar deixou a casa – o único bem que possuíam levando o maior tesouro de Carlos – o filho!
Não raras vezes derramou lágrimas ao falar dopequeno,
da esposa que perdera devido às circunstâncias, do esvaziamento do trabalho, da vida torta banhada no álcool.
Fechou o escritório, os clientes sumiram.
Passou a fazer pequenos trabalhos para os amigos.
Um deles tentou ajudar Carlos de tal forma que o
levou para casa, cuidou por longos três meses, mobilizou
a classe para colaborar, fez contato com a família no interior do Estado, levou-o para uma igreja.
Carlos estava debilitado, o álcool havia feito estragos no intelecto.
Estava lento, disperso, vago, vazio...
Nesta época o filho com dez anos de idade e Carlos há
mais de cinco sem rumo.
Ficara na casa, seu único patrimônio vivendo de
trabalhos esporádicos, solidariedade, apoio dos colegas
de profissão.
Apresentava-se meio desalinhado com roupas surradas.
O sorriso, porém sempre o mesmo, a educação para
com o próximo perfeita.
Quando amparado pelo amigo estava num estado deplorável de tal monta que passou mais de três
meses hospitalizado.
OA recber a alta hospitalar aderiu à uma igreja evangélica, prometera que largara o vício, que viveria de forma
diferente.
Lamentava a ausência do filho e perda do casamento
por conta da bebida.
Prestativo o amigo após vê-lo aparentemente curado,
reuniu a classe, obteve recursos a fim de enviar Carlos
para o interior de São Paulo com os familiares.
Foram seis meses de abstinência.
Ao retornar para o trabalho novamente a queda.
Ainda assim atuava em trabalhos para alguns
colegas de profissão.
Início do ano em curso.
Carlos bebia compulsivamente.
Entrou em coma.
Foram mais de três meses hospitalizado.
Incapaz de vencer o vício entregou-se emocionalmente.
Perda gradativa das funções vitais.
O coma, a ausência, a perda de peso, a entrega, a morte.
Faleceu prematuramente antes de completar cinco
décadas de vida.
Fica a imagem da pessoa extremamente gentil,
educada, respeitosa, amiga.
Fica a tristeza pela derrota.
Fica a sensação de impotência diante da vitória do vício,
da doença, que ainda hoje erroneamente é vista por muitos como falta de vergonha do dependente, fica o mundo mais carente diante da perda de uma árvore que tantos frutos poderia render, fica o vazio da saudade, do sorriso, da esperança que se foi, da vida precocemente tragada nos goles do falso prazer.
(Ana Stoppa)
Fica a nos corações a melodia de uma de suas canções preferidas Legata a un granello di sabbia.
http://www.youtube.com/watch?v=1QebKMqdElg
Vez ou outra quando nos encontrávamos por força do trabalho dizia com o mesmo sorriso vindo em minha direção com os braços acolhedores.....Ai vem a Dra A.... que canta italiano.... canta um pedacinho....
Que Deus o tenha querido amigo!
( baseado em fatos reais, preservada a identidade em respeito ao grande ser humano que deixou o mundo
terreno estes dias e a como legado o sorriso, a
amabilidade, a gentileza, a educaçáo e a
humildade, e porque nào dizer do doloroso desfecho
por força da doença).
(Ana Stoppa)
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