DEUS: AMOR E ÓDIO

Não consigo entender a lógica e os padrões de significação divina para o amor. Confesso que quanto mais leio as escrituras sacralizadas, mais me posiciono ao lado dos confusos de mente e mesmo de coração. Como a Bíblia e a vida persistem em ratificar a não compreensibilidade humana do amor divino. As letras, que lá estão grafadas ao longo dos séculos, a história antiga e a contemporaneidade; dentro daquilo que chamamos de racionalidade, atestam o “não amor” divino. Afirmam a todo instante o “prazer” da divindade no sofrimento de suas criaturas. O maior exemplo deste pensar estará no próprio texto áureo bíblico: João 3. 16. Me sentiria mais amado se no lugar de entregar o seu filho, o Pai celeste retirasse ou não criasse o mal no e do mundo! Mesmo Ele entregando o único filho na cruz, para uma morte dolorosa e expiatória; ainda permite a operacionalidade do mal! O amor que dispensa para suas feituras, não se pode comparar ao de uma mãe. Mas, qual mãe deixaria o filho num leito de morte com uma doença terminal, podendo interferir no fato? Qual mãe deixará, por mais rebelde que seu filho venha ser, este a queimar na eternidade por uma peraltice juvenil?

As coisas mais prazerosas existentes no mundo incluem sabor, visão, tato, audição; sendo na maior parte, proibidas as suas práticas por serem perniciosas ao corpo e a mente dos homens. Diga-se: gordura; gula; desejos (ambição, inveja, cobiça...) pornografia; libido; sodomia... Quem pediu, ao nascer, tais sentidos? Tal vontade? Quem decidiu por nós?

Deus seria uma espécie de síndrome da perfeição: ao construir seres imperfeitos. Ou seria auto-correção?

Este amor, não só, é movido em direção ao delírio humano, como ao prazer estoico divino. Deus amou o mundo de tal maneira que criou o inferno.

Que criou a peste. A fome. A miséria que nele habita. A desgraça; catástrofes e sinistros. Que criou seres com diferenciações significativas e no mínimo constrangedoras.

Diga-se: mesmo pecadores, Ele nos ama.

Afirmo: mesmo que não venhamos cometer erros (éticos e morais) somos alcançados pelo mal. A maior injustiça seria o “sol que nasce para todos”. Este é o desespero do homem ético (Kierkegard).

As bem aventuranças deveriam ser recompensadas ao final. Ético é quem é fiel, observa as leis e respeita os compromissos familiares e sociais. Mas isto não será garantia de vida plena, isenção da malignificiência e realizações pessoais (individuais). Esta somente acontecerá pela eliminação dos problemas fundamentais da existência, que continuam sem respostas numa vida que é ética.

Bem, se voltarmos ao Genesis veremos mais uma contradição deste amor: qual pai deixará o seu filho (inocente, pois ainda não havia a maldade decorrente do pecar) que tanto ama, tendo acesso direto, sem nenhuma restrição ou impedimento físico, a uma fruta envenenada de discórdias e dores? Jamais faria isto com minha filha! A não ser por esquecimento. Coisa que não acontece com Deus. Sendo este “amor” onisciente, a culpabilidade da queda adâmica estaria no projeto, assim também como, em relação à onipotência e a onipresença. Efetivamente, se Deus realizou a criação com base em um ato consciente e voluntário, ele pode ser responsabilizado pelas imperfeições mundanas.

Este amor idealizado em Deus seria, e muito, contraditório e racionalmente improvável. A contradição reside no fato do não haver (nem mesmo entre os mortais) a possibilidade de existência naquele que ama, da permissividade de males; desastres; sinistros; sofrimentos...endereçado a sua mais perfeita das criaturas: o homem. Por ser este a imagem e semelhança do criador.

Quanto mais olho para os céus, mais encontro o homem.

O amor antropomórfico em relação a Deus; a existência e a natureza do mal, constituem a problematização fundamental de toda a teologia.

Fico a me perguntar onde estará escondido o ódio e a ira divina. A resposta será lógica e óbvia: no amor dele.

PENSE filoliveira

filoliveira
Enviado por filoliveira em 28/05/2012
Reeditado em 25/03/2014
Código do texto: T3693223
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