TIA ELIZA

TIA ELIZA

Era irmã de meu pai. Eliza de Lima Madela. Casada com o tio Carlos. Um casal que viveu um para o outro. Sem filhos. Por isso, sendo minha madrinha de batismo, tratava-me como se o fosse. Extremamente religiosa, sua única missão diária era ir à igreja. Morava bem perto da Igreja do Carmo, hoje nossa catedral. Era muito obesa, contudo a proximidade do templo facilitava sua ida.

Lembro-me, quando criança, entre os nove e dez anos, numas férias escolares, levou-me para passar uns dias na distante estação de águas mineira, Lambari. Viagem inesquecível, de trem.

Imaginem, 1947, ferrovia bitola estreita, atravessando as alterosas, beirando desfiladeiros, pontes, viadutos. De dar medo! Mas, valeu a pena. Lambari, com suas águas medicinais era uma pequena cidade, muito aprazível. Hospitalidade mineira. Ficamos no hotel defronte ao parque das águas. Muito tempo depois, vim a saber, que o motivo da viagem, não era somente usufruir das vantagens para a saúde que a estância proporcionava. Meus tios haviam, antes, tratado de adotar duas irmãs que estavam em um asilo.

Assim, na viagem de volta, viemos em cinco pessoas. As meninas passaram mal o tempo todo. Só me lembro do nome de uma delas, Júlia, a mais nova. A outra, pouco tempo depois, não sei qual o motivo, veio a falecer. Creio que de tuberculose. Porque a Julinha, assim chamada pela sua pequena estatura, logo depois também contraiu a mesma doença, passando vários anos em tratamento, num sanatório em Campos do Jordão. Curada, voltou ao convívio de meus tios, muito pequenina, e corcunda. Viveu muitos anos na companhia da tia Eliza, vendo até mesmo, o casal falecer. Estavam morando em Santos. Em testamento, ela ficou com o apartamento em que viviam, com uma cláusula segundo a qual, em caso de sua morte, a propriedade seria herdada pela entidade que mantinha o sanatório em que esteve internada, em Campos do Jordão.

Após sua morte, assim aconteceu.

Quando da morte de meu irmão Sebastião, minha cunhada Wilma me entregou uma série de documentos de meu pai, que estava em poder dele. Não havia mais razão para continuar com ela.

Entre eles, uma caderneta de anotações, já em estado bem crítico. Nesse documento, a tia Eliza consignava, a lápis, todos os principais acontecimentos havidos na família Lima, tais como, nascimentos, casamentos, falecimentos, mudanças de moradia.

Uma verdadeira relíquia!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 28/05/2012
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